sábado, 10 de abril de 2010

HAF'TARAH DE TAZ'RIYÁ

2Rs 4:42 - 5:19

2Rs 4
42 Veio um homem de Baal-Salisa e trouxe ao homem de D-us pães das primícias, vinte pães de cevada, e espigas verdes no seu alforje. Disse Eliseu: Dá ao povo para que coma.
43 Porém seu servo lhe disse: Como hei de eu pôr isto diante de cem homens? Ele tornou a dizer: Dá-o ao povo, para que coma; porque assim diz o ETERNO: Comerão, e sobejará.
44 Então, lhos pôs diante; comeram, e ainda sobrou, conforme a palavra do ETERNO.

2Rs 5
1 Naamã, comandante do exército do rei da Síria, era grande homem diante do seu senhor e de muito conceito, porque por ele o ETERNO dera vitória à Síria; era ele herói da guerra, porém leproso.
2 Saíram tropas da Síria, e da terra de Israel levaram cativa uma menina, que ficou ao serviço da mulher de Naamã.
3 Disse ela à sua senhora: Tomara o meu senhor estivesse diante do profeta que está em Samaria; ele o restauraria da sua lepra.
4 Então, foi Naamã e disse ao seu senhor: Assim e assim falou a jovem que é da terra de Israel.
5 Respondeu o rei da Síria: Vai, anda, e enviarei uma carta ao rei de Israel. Ele partiu e levou consigo dez talentos de prata, seis mil siclos de ouro e dez vestes festivais.
6 Levou também ao rei de Israel a carta, que dizia: Logo, em chegando a ti esta carta, saberás que eu te enviei Naamã, meu servo, para que o cures da sua lepra.
7 Tendo lido o rei de Israel a carta, rasgou as suas vestes e disse: Acaso, sou D-us com poder de tirar a vida ou dá-la, para que este envie a mim um homem para eu curá-lo de sua lepra? Notai, pois, e vede que procura um pretexto para romper comigo.
8 Ouvindo, porém, Eliseu, homem de D-us, que o rei de Israel rasgara as suas vestes, mandou dizer ao rei: Por que rasgaste as tuas vestes? Deixa-o vir a mim, e saberá que há profeta em Israel.
9 Veio, pois, Naamã com os seus cavalos e os seus carros e parou à porta da casa de Eliseu.
10 Então, Eliseu lhe mandou um mensageiro, dizendo: Vai, lava-te sete vezes no Jordão, e a tua carne será restaurada, e ficarás limpo.
11 Naamã, porém, muito se indignou e se foi, dizendo: Pensava eu que ele sairia a ter comigo, pôr-se-ia de pé, invocaria o nome do ETERNO, seu D-us, moveria a mão sobre o lugar da lepra e restauraria o leproso.
12 Não são, porventura, Abana e Farfar, rios de Damasco, melhores do que todas as águas de Israel? Não poderia eu lavar-me neles e ficar limpo? E voltou-se e se foi com indignação.
13 Então, se chegaram a ele os seus oficiais e lhe disseram: Meu pai, se te houvesse dito o profeta alguma coisa difícil, acaso, não a farias? Quanto mais, já que apenas te disse: Lava-te e ficarás limpo.
14 Então, desceu e mergulhou no Jordão sete vezes, consoante a palavra do homem de D-us; e a sua carne se tornou como a carne de uma criança, e ficou limpo.
15 Voltou ao homem de D-us, ele e toda a sua comitiva; veio, pôs-se diante dele e disse: Eis que, agora, reconheço que em toda a terra não há D-us, senão em Israel; agora, pois, te peço aceites um presente do teu servo.
16 Porém ele disse: Tão certo como vive o ETERNO, em cuja presença estou, não o aceitarei. Instou com ele para que o aceitasse, mas ele recusou.
17 Disse Naamã: Se não queres, peço-te que ao teu servo seja dado levar uma carga de terra de dois mulos; porque nunca mais oferecerá este teu servo holocausto nem sacrifício a outros deuses, senão ao ETERNO.
18 Nisto perdoe o ETERNO a teu servo; quando o meu senhor entra na casa de Rimom para ali adorar, e ele se encosta na minha mão, e eu também me tenha de encurvar na casa de Rimom, quando assim me prostrar na casa de Rimom, nisto perdoe o ETERNO a teu servo.
19 Eliseu lhe disse: Vai em paz. Quando Naamã se tinha afastado certa distância,
M'tzorá - da Torá - Fonte Academia de Cabala

Lv 14:1 - 15:33

Lv 14
1 Disse o ETERNO a Moisés:
2 Esta será a lei do leproso no dia da sua purificação: será levado ao sacerdote;
3 este sairá fora do arraial e o examinará. Se a praga da lepra do leproso está curada,
4 então, o sacerdote ordenará que se tomem, para aquele que se houver de purificar, duas aves vivas e limpas, e pau de cedro, e estofo carmesim, e hissopo.
5 Mandará também o sacerdote que se imole uma ave num vaso de barro, sobre águas correntes.
6 Tomará a ave viva, e o pau de cedro, e o estofo carmesim, e o hissopo e os molhará no sangue da ave que foi imolada sobre as águas correntes.
7 E, sobre aquele que há de purificar-se da lepra, aspergirá sete vezes; então, o declarará limpo e soltará a ave viva para o campo aberto.
8 Aquele que tem de se purificar lavará as vestes, rapará todo o seu pêlo, banhar-se-á com água e será limpo; depois, entrará no arraial, porém ficará fora da sua tenda por sete dias.
9 Ao sétimo dia, rapará todo o seu cabelo, a cabeça, a barba e as sobrancelhas; rapará todo pêlo, lavará as suas vestes, banhará o corpo com água e será limpo.
10 No oitavo dia, tomará dois cordeiros sem defeito, uma cordeira sem defeito, de um ano, e três dízimas de um efa de flor de farinha, para oferta de manjares, amassada com azeite, e separadamente um sextário de azeite;
11 e o sacerdote que faz a purificação apresentará o homem que houver de purificar-se e essas coisas diante do ETERNO, à porta da tenda da congregação;
12 tomará um dos cordeiros e o oferecerá por oferta pela culpa e o sextário de azeite; e os moverá por oferta movida perante o ETERNO.
13 Então, imolará o cordeiro no lugar em que se imola a oferta pelo pecado e o holocausto, no lugar santo; porque quer a oferta pela culpa como a oferta pelo pecado são para o sacerdote; são coisas santíssimas.
14 O sacerdote tomará do sangue da oferta pela culpa e o porá sobre a ponta da orelha direita daquele que tem de purificar-se, e sobre o polegar da sua mão direita, e sobre o polegar do seu pé direito.
15 Também tomará do sextário de azeite e o derramará na palma da própria mão esquerda.
16 Molhará o dedo direito no azeite que está na mão esquerda e daquele azeite aspergirá, com o dedo, sete vezes perante o ETERNO;
17 do restante do azeite que está na mão, o sacerdote porá sobre a ponta da orelha direita daquele que tem de purificar-se, e sobre o polegar da sua mão direita, e sobre o polegar do seu pé direito, em cima do sangue da oferta pela culpa;
18 o restante do azeite que está na mão do sacerdote, pô-lo-á sobre a cabeça daquele que tem de purificar-se; assim, o sacerdote fará expiação por ele perante o ETERNO.
19 Então, o sacerdote fará a oferta pelo pecado e fará expiação por aquele que tem de purificar-se da sua imundícia. Depois, imolará o holocausto
20 e o oferecerá com a oferta de manjares sobre o altar; assim, o sacerdote fará expiação pelo homem, e este será limpo.
21 Se for pobre, e as suas posses não lhe permitirem trazer tanto, tomará um cordeiro para oferta pela culpa como oferta movida, para fazer expiação por ele, e a dízima de um efa de flor de farinha, amassada com azeite, para oferta de manjares, e um sextário de azeite,
22 duas rolas ou dois pombinhos, segundo as suas posses, dos quais um será para oferta pelo pecado, e o outro, para holocausto.
23 Ao oitavo dia da sua purificação, os trará ao sacerdote, à porta da tenda da congregação, perante o ETERNO.
24 O sacerdote tomará o cordeiro da oferta pela culpa e o sextário de azeite e os moverá por oferta movida perante o ETERNO.
25 Então, o sacerdote imolará o cordeiro da oferta pela culpa, e tomará do sangue da oferta pela culpa, e o porá sobre a ponta da orelha direita daquele que tem de purificar-se, e sobre o polegar da sua mão direita, e sobre o polegar do seu pé direito.
26 Derramará do azeite na palma da própria mão esquerda;
27 e, com o dedo direito, aspergirá do azeite que está na sua mão esquerda, sete vezes perante o ETERNO;
28 porá do azeite que está na sua mão na ponta da orelha direita daquele que tem de purificar-se, e no polegar da sua mão direita, e no polegar do seu pé direito, por cima do sangue da oferta pela culpa;
29 o restante do azeite que está na mão do sacerdote porá sobre a cabeça do que tem de purificar-se, para fazer expiação por ele perante o ETERNO.
30 Oferecerá uma das rolas ou um dos pombinhos, segundo as suas posses;
31 será um para oferta pelo pecado, e o outro, para holocausto, além da oferta de manjares; e, assim, o sacerdote fará expiação por aquele que tem de purificar-se perante o ETERNO.
32 Esta é a lei daquele em quem está a praga da lepra, cujas posses não lhe permitem o devido para a sua purificação.
33 Disse mais o ETERNO a Moisés e a Arão:
34 Quando entrardes na terra de Canaã, que vos darei por possessão, e eu enviar a praga da lepra a alguma casa da terra da vossa possessão,
35 o dono da casa fará saber ao sacerdote, dizendo: Parece-me que há como que praga em minha casa.
36 O sacerdote ordenará que despejem a casa, antes que venha para examinar a praga, para que não seja contaminado tudo o que está na casa; depois, virá o sacerdote, para examinar a casa,
37 e examinará a praga. Se, nas paredes da casa, há manchas esverdinhadas ou avermelhadas e parecem mais fundas que a parede,
38 então, o sacerdote sairá da casa e a cerrará por sete dias.
39 Ao sétimo dia, voltará o sacerdote e examinará; se vir que a praga se estendeu nas paredes da casa,
40 ele ordenará que arranquem as pedras em que estiver a praga e que as lancem fora da cidade num lugar imundo;
41 e fará raspar a casa por dentro, ao redor, e o pó que houverem raspado lançarão, fora da cidade, num lugar imundo.
42 Depois, tomarão outras pedras e as porão no lugar das primeiras; tomar-se-á outra argamassa e se rebocará a casa.
43 Se a praga tornar a brotar na casa, depois de arrancadas as pedras, raspada a casa e de novo rebocada,
44 então, o sacerdote entrará e examinará. Se a praga se tiver estendido na casa, há nela lepra maligna; está imunda.
45 Derribar-se-á, portanto, a casa, as pedras e a sua madeira, como também todo o reboco da casa; e se levará tudo para fora da cidade, a um lugar imundo.
46 Aquele que entrar na casa, enquanto está fechada, será imundo até à tarde.
47 Também o que se deitar na casa lavará as suas vestes; e quem nela comer lavará as suas vestes.
48 Porém, tornando o sacerdote a entrar, e, examinando, se a praga na casa não se tiver estendido depois que a casa foi rebocada, o sacerdote a declarará limpa, porque a praga está curada.
49 Para purificar a casa, tomará duas aves, e pau de cedro, e estofo carmesim, e hissopo,
50 imolará uma ave num vaso de barro sobre águas correntes,
51 tomará o pau de cedro, e o hissopo, e o estofo carmesim, e a ave viva, e os molhará no sangue da ave imolada e nas águas correntes, e aspergirá a casa sete vezes.
52 Assim, purificará aquela casa com o sangue da ave, e com as águas correntes, e com a ave viva, e com o pau de cedro, e com o hissopo, e com o estofo carmesim.
53 Então, soltará a ave viva para fora da cidade, para o campo aberto; assim, fará expiação pela casa, e será limpa.
54 Esta é a lei de toda sorte de praga de lepra, e de tinha,
55 e da lepra das vestes, e das casas,
56 e da inchação, e da pústula, e das manchas lustrosas,
57 para ensinar quando qualquer coisa é limpa ou imunda. Esta é a lei da lepra.

Lv 15
1 Disse mais o ETERNO a Moisés e a Arão:
2 Falai aos filhos de Israel e dizei-lhes: Qualquer homem que tiver fluxo seminal do seu corpo será imundo por causa do fluxo.
3 Esta, pois, será a sua imundícia por causa do seu fluxo: se o seu corpo vaza o fluxo ou se o seu corpo o estanca, esta é a sua imundícia.
4 Toda cama em que se deitar o que tiver fluxo será imunda; e tudo sobre que se assentar será imundo.
5 Qualquer que lhe tocar a cama lavará as suas vestes, banhar-se-á em água e será imundo até à tarde.
6 Aquele que se assentar sobre aquilo em que se assentara o que tem o fluxo lavará as suas vestes, banhar-se-á em água e será imundo até à tarde.
7 Quem tocar o corpo do que tem o fluxo lavará as sua vestes, banhar-se-á em água e será imundo até à tarde.
8 Se o homem que tem o fluxo cuspir sobre uma pessoa limpa, então, esta lavará as suas vestes, banhar-se-á em água e será imunda até à tarde.
9 Também toda sela em que cavalgar o que tem o fluxo será imunda.
10 Qualquer que tocar alguma coisa que esteve debaixo dele será imundo até à tarde; e aquele que a levar lavará as suas vestes, banhar-se-á em água e será imundo até à tarde.
11 Também todo aquele em quem tocar o que tiver o fluxo, sem haver lavado as suas mãos com água, lavará as suas vestes, banhar-se-á em água e será imundo até à tarde.
12 O vaso de barro em que tocar o que tem o fluxo será quebrado; porém todo vaso de madeira será lavado em água.
13 Quando, pois, o que tem o fluxo dele estiver limpo, contar-se-ão sete dias para a sua purificação; lavará as suas vestes, banhará o corpo em águas correntes e será limpo.
14 Ao oitavo dia, tomará duas rolas ou dois pombinhos, e virá perante o ETERNO, à porta da tenda da congregação, e os dará ao sacerdote;
15 este os oferecerá, um, para oferta pelo pecado, e o outro, para holocausto; e, assim, o sacerdote fará, por ele, expiação do seu fluxo perante o ETERNO.
16 Também o homem, quando se der com ele emissão do sêmen, banhará todo o seu corpo em água e será imundo até à tarde.
17 Toda veste e toda pele em que houver sêmen se lavarão em água e serão imundas até à tarde.
18 Se um homem coabitar com mulher e tiver emissão do sêmen, ambos se banharão em água e serão imundos até à tarde.
19 A mulher, quando tiver o fluxo de sangue, se este for o fluxo costumado do seu corpo, estará sete dias na sua menstruação, e qualquer que a tocar será imundo até à tarde.
20 Tudo sobre que ela se deitar durante a menstruação será imundo; e tudo sobre que se assentar será imundo.
21 Quem tocar no leito dela lavará as suas vestes, banhar-se-á em água e será imundo até à tarde.
22 Quem tocar alguma coisa sobre que ela se tiver assentado lavará as suas vestes, banhar-se-á em água e será imundo até à tarde.
23 Também quem tocar alguma coisa que estiver sobre a cama ou sobre aquilo em que ela se assentou, esse será imundo até à tarde.
24 Se um homem coabitar com ela, e a sua menstruação estiver sobre ele, será imundo por sete dias; e toda cama sobre que ele se deitar será imunda.
25 Também a mulher, quando manar fluxo do seu sangue, por muitos dias fora do tempo da sua menstruação ou quando tiver fluxo do sangue por mais tempo do que o costumado, todos os dias do fluxo será imunda, como nos dias da sua menstruação.
26 Toda cama sobre que se deitar durante os dias do seu fluxo ser-lhe-á como a cama da sua menstruação; e toda coisa sobre que se assentar será imunda, conforme a impureza da sua menstruação.
27 Quem tocar estas será imundo; portanto, lavará as suas vestes, banhar-se-á em água e será imundo até à tarde.
28 Porém, quando lhe cessar o fluxo, então, se contarão sete dias, e depois será limpa.
29 Ao oitavo dia, tomará duas rolas ou dois pombinhos e os trará ao sacerdote à porta da tenda da congregação.
30 Então, o sacerdote oferecerá um, para oferta pelo pecado, e o outro, para holocausto; o sacerdote fará, por ela, expiação do fluxo da sua impureza perante o ETERNO.
31 Assim, separareis os filhos de Israel das suas impurezas, para que não morram nelas, ao contaminarem o meu tabernáculo, que está no meio deles.
32 Esta é a lei daquele que tem o fluxo, e daquele com quem se dá emissão do sêmen e que fica por ela imundo,
33 e também da mulher passível da sua menstruação, e daquele que tem o fluxo, seja homem ou mulher, e do homem que se deita com mulher imunda.

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sexta-feira, 12 de março de 2010

Vaia´chel e Pecudê

Exodo 35:22
Sobre o dar

E vieram os homens com as mulheres, todos doadores de coração, e trouxeram pulseiras e aros, anéis, cintos de castidade e todo objeto de ouro;

O seguinte comentário se encontra na Tora:
A expressão Nediv Lev (doador de coração) quer dizer, na realidade, que o ato de dar deveria sair do coração. Segundo Moshe Maimonides, o grande filosofo e codificador espanhol, exitem oito graus à prática da oferta:
1- Dar contra sua vontade ou porque lhe tenham pedido
2- Dar antes que peçam
3- Dar de acordo com sua situação financeira
4- Dar mais do que permite sua situação financeira
5- Dar sabendo a quem se dá sem que ele saiba de quem recebe
6- Dar não sabendo a quem se dá, porém quem recebe sabe quem deu
7- Dar sem saber nem um nem outro quem dá e quem recebe
8- Dar a alguém os meios necessários para viver sem degradá-lo com a esmola.

Uma pessoa honesta e correta deve se esforçar para ganhar escrupulosamente o seu sustento, e só depois poderá dispor dele, distribuindo-o em Terumá, Tsedacá e Nedavot. O termo Terumá significa separar, contribuir e elevar. A torá pretende nos ensinar que, com a separação de uma parte de nossos bens para fins sagrados e caritativos, o doador eleva-se a um nível ético. Não são a fortuna e os bens materiais que fazem a felicidade humana, mas sua boa e justa aplicacao, também aquele que gostaria de dar, mas que não tem meios, e a única coisa com que pode contribuir é seu coração, a sua boa vontade de colaborar, a sal compaixão e compreensão, isso também é considerado como tsedaká. O shekel, primeiro introduzido por Moshé qunado os judeus ainda estavam no deserto, tinha por grande objetivo o Cófer nephesh, o resgate da alma, o remir-se do grande pecado do bezerro de ouro, pois o povo não hesitou em contribuir com ouro, prata e jóias, para fabricar um bezerro, não havia justificativa alguma para dispnesa-los dessa sagrada dádiva que é o shekel. Quem pretende identificar-se e quiser ser incluído na coletividade deve contribuir com sua parte, voluntariamente, de todo o coração, com entusiasmo, com alegria e com a satisfação de poder dar, e de ter algo para dar. A idéia básica de dar somente meio sheker era para nos ensinar que um judeu não se sente ligado a seu correligionário, que não procura ou não quer se identificar com sua coletividade é só meio-judeu, e um judeu mutilado e imperfeito. Isso não diz respeito somente ao judeu; a ética judaica não é e nunca será chauvinista. Um individuo para o qual odestino de seu semelhante é indiferente não passa de uma criatura mutilada, que necessita de nossa compaixão.
Isso me faz lembrar de algumas coisas que o rabino Yeshua falou sobre o dar:
O que diz o rabino Yeshua sobre ofertas?

23 Portanto, se trouxeres a tua oferta ao altar, e aí te lembrares de que teu irmão tem alguma coisa contra ti, Deixa ali diante do altar a tua oferta, e vai reconciliar-te primeiro com teu irmão e, depois, vem e apresenta a tua oferta.

O que isso quer dizer? Que não adianta o dar exterior, o dar material, se de nosso irmão estamos retendo o que de mais importante poderíamos dar a ele: nossa amizade e nosso perdão, a reconciliação e a comunhão. Mais uma vez fica aí enfatizado que tudo acontece de dentro para fora, do espiritual para o material, e não o contrário.
Em outra passagem, vemos o seguinte:

2 E olhando ele, viu os ricos lançarem suas ofertas na arca do tesouro; E viu também uma pobre viúva dar ali duas pequenas moedas;
3 E disse: Em verdade vos digo que esta pobre viúva deu mais do que todos;
4 Porque todos aqueles deram para as ofertas de Deus do que lhes sobra; mas esta, da sua pobreza, deu todo o sustento que tinha.

O que queria ele dizer com isso? Que o dar não é uma questão de quantidade, mas uma questão de porcentagem. Não importa o quanto damos, mas o quanto damos de nós mesmos em relação a tudo que temos.

Ele disse também:
Jesus respondeu-lhes: E vós, por que violais os preceitos de Deus, por causa de vossa tradição?
4 Deus disse: Honra teu pai e tua mãe; aquele que amaldiçoar seu pai ou sua mãe será castigado de morte {Ex 20,12; 21,17}.
5 Mas vós dizeis: Aquele que disser a seu pai ou a sua mãe: aquilo com que eu vos poderia assistir, já ofereci a Deus,
6 esse já não é obrigado a socorrer de outro modo a seus pais. Assim, por causa de vossa tradição, anulais a palavra de Deus.
7 Hipócritas! É bem de vós que fala o profeta Isaías:
8 Este povo somente me honra com os lábios; seu coração, porém, está longe de mim.


Com isso ele queria dizer que nunca devemos deixar a família e aqueles por quem somos responsáveis desprovidos para ofertarmos ao Eterno – ofertarmos assim é hipocrisia, porque no fundo estaremos fazendo isso por motivos egoístas – para aparecer e para alimentar nosso ego.

Cada um contribua segundo propôs no seu coração; não com tristeza, ou por necessidade; porque Deus ama ao que dá com alegria. II Coríntios 9:7
Mais acima vemos enumerados três tipos de oferta: Terumah tsedakah e nedavot:

Terumah – oferta de elevação. Ela era dada aos sacerdotes e, se fosse de alimento, podia ser ingerida por eles. O sentido hebraico não pode ser exatamente traduzido, significando para um propósito mais alto, ou uma parte de um todo maior. Na lei judaica, a terumah gedolah era associada às primícias, a primeira porção das colheitas. Apesar de não haver uma quantidade especificada na torah, uma passagem no livro de Ezequiel sugere que seria 1/50 avos do cereal, vinho ou óleo do ofertante.

Tzedaká - Tzedaká geralmente é traduzido como "caridade". A palavra tzedaká vem da mesma raiz da palavra hebraica tzedek, que significa "justiça". Compreendemos o conceito de tzedaká como justiça social. Isto implica na obrigação da pessoa em dar. Portanto é dever de cada judeu, mesmo dos carentes, praticar a tzedaká de forma regular, para ajudar os mais necessitados.
Qual a origem da mitzvá de Tzedaká? Lemos na Torá, em Devarim (Deuteronômio) 15,7-8: "Se no meio de ti houver um mendigo entre teus irmãos, numa das tuas cidades, na tua terra, que o Eterno, teu Deus, te dá, não endurecerás teu coração e não fecharás tua mão a teu irmão, o mendigo; mas lhe abrirás a tua mão e lhe emprestarás o suficiente para o que lhe faltar".
Muitos profetas e sábios diziam que os sacrifícios no Templo eram menos importantes que a tzedaká. É o caso de Isaías que critica os holocaustos que não são seguidos os e amor ao próximo e tzedaká (Is 1,11-17).
Os rabinos se preocuparam em não ofender ou humilhar o necessitado. Daí ser preferível ajudar o necessitado de forma anônima, sem ser percebido: "O Mandamento de praticar a caridade pesa tanto quanto os outros reunidos. (...) O que dá esmolas em segredo é maior que Moisés" ( Talmud, Baba Batra, 9b).
Outra questão importante: a tzedaká não deve ser dirigida somente aos judeus, mas a todos os necessitados: "A caridade não distingue raça nem credo" ( Talmud, Guitin 61 a).
Contudo, a tzedaká deve ser limitada a um percentual das posses ou rendimentos da pessoa, pois não deve haver um exagero na bondade: "Seja o homem generoso na sua caridade, mas guarde-se de dar tudo o que tem" ( Talmud, Arachim, 28 a).
Fontes Judaicas
01) Talmud Babilônico, Chaguigá 5 a
O rabi presenciou um homem dar em público a esmola de um vintém a um mendigo e disse-lhe: "Antes não tivesse dado nada do que envergonhá-lo".
02) Avot 3
Quem pratica a beneficência nada dá de si mesmo, senão de Deus. Tudo o que possuímos, de fato pertence a Deus, como está escrito no primeiro livro de Crônicas 29,14.
03) Talmud Babilônico, Baba Batra 9 b
Rabi Eliezer indagava: "O que significa a afirmativa de Isaías (29,17) Vestiu-se de justiça (tzedaká), como de uma couraça. Quer dizer que da mesma maneira que a couraça é feita unindo uma lâmina a outra, também a caridade pode realizar algo grande juntando um centavo a outro".
04) Midrash Vaikrá Rabá 14,15
"...se abrires tua alma ao faminto..." (Is 58,10).
Ainda que não tenhas nada para lhe dar, consolai-o com palavras. Diga-lhe: "Minha alma está contigo, ainda que seja a única coisa que tenho para te oferecer".
II – Maasser
A idéia de dar o dízimo é uma prática judaica, conforme estabelecido na Torá, que orienta que todo judeu separe um décimo, maasser, de seus lucros para a caridade. A fonte da lei que apóia a idéia de doar até um quinto de nossa renda está no Talmud, Tratado de Ketubot 50a.
Na perspectiva judaica, tudo o que possuímos é um empréstimo de Deus. Na realidade, tanto a colheita, como a renda monetária de cada indivíduo é um presente Divino. A Torá instituiu que um décimo da colheita, ou da renda, fosse doada. Este é um lembrete de que na realidade nenhum bem material é nossa propriedade eterna, e temos de usar o que temos agora para o bem. A Torá nos ordena dar um décimo de nossa renda líquida. Por sua vez, encontramos em outra fonte judaica que é meritório dar 20% (Shulchán Aruch, Yore Dea 249,1).

Fontes Judaicas
01) Bereshit (Gênesis) 14,19-20
E o abençoou e disse: Bendito seja Abrão do Deus Altíssimo, Criador dos céus e da terra, e bendito seja Deus Altíssimo, que entregou os teus inimigos nas tuas mãos! E Abrão lhe deu um décimo de tudo.
02) Bereshit (Gênesis) 28,20-22
E fez Jacob uma promessa, dizendo: Se Deus for comigo e me guardar neste caminho que vou seguindo, e me der pão para comer e roupa para vestir, e voltar em paz à casa de meu pai e for o Eterno para mim por Deus, então esta pedra que coloquei como monumento, será casa de Deus, e de tudo quanto me deres, certamente dar-Te-ei o décimo.
03) Vaikrá (Levítico) 27,30-31
E todo o dízimo da terra, da semente da terra, de fruto da árvore, perante o Eterno o comerás (em Jerusalém); santidade é para o Eterno. E se quiser a pessoa remir o seu dízimo, acrescentar- lhe-á a quinta parte de seu preço (cujo valor o comerá em Jerusalém).
04) Bamidbár (Números) 18, 21-24
E aos filhos de Levi, eis que tenho dado todos os dízimos em Israel por herança, em troca do serviço que eles prestam na tenda da reunião. E não se aproximarão mais os filhos de Israel à tenda da reunião, para que não levem sobre si pecado e morram. E servirão os Levitas no serviço da tenda da reunião, e eles levarão sobre si a sua iniqüidade; estatuto perpétuo pelas vossas gerações; e no meio dos filhos de Israel não terão herança. Porque os dízimos dos filhos de Israel, que separarem ao Eterno em oferta, dei aos Levitas por herança; portanto Eu lhes disse: No meio dos filhos de Israel não terão herança.
05) Devarim (Deuteronômio) 14,22-29
Certamente separarás o dízimo de todo o produto das tuas sementes, que o campo produzir de ano a ano. E o comerás diante do Eterno, teu Deus, no lugar que escolher para ali fazer habitar Seu nome; o dízimo de teu grão, teu mosto e teu azeite, e os primogênitos do teu gado e do teu rebanho, para que aprendas a temer o Eterno, teu Deus, em todo o tempo. E se o caminho te for comprido, de sorte que não possas levar por estar longe de ti o lugar que escolher o Eterno, teu Deus, para ali pôr o seu nome, pois te abençoará o Eterno, teu Deus, para teres produção abundante; então o trocarás por dinheiro, e atarás o dinheiro em tua mão e irás ao lugar que o Eterno, teu Deus, escolher. E darás este dinheiro por tudo o que desejar a tua alma – por gado, ou por rebanho, ou por vinho, ou por vinho velho ou por tudo o que te pedir a tua alma; e comerás ali diante do Eterno, teu Deus, e te alegrarás, tu e a gente de tua casa. E ao Levita que está em tuas cidades, não deixarás de dar-lhe (o teu primeiro dízimo), pois não tem parte nem herança contigo. Ao fim de três anos tirarás todos os dízimos de teu produto, naquele ano, e os depositarás dentro das tuas cidades. E virá o Levita, que não tem parte nem herança contigo (e tomará o primeiro dízimo), e o peregrino, o órfão e a viúva, que estão nas tuas cidades (tomarão o dízimo de pobre) e comerão e se fartarão, para que o Eterno, teu Deus, te abençoe em todas as obras que as tuas mãos fizerem.
06) Devarim (Deuteronômio) 26,12
Quando acabares de dizimar todos os dízimos de teu produto no terceiro ano, que é o ano em que se separa um só dízimo, o do Levita, o darás ao levita, e também darás um outro dízimo para o peregrino, para o órfão e para a viúva, a fim de que os comam e se fartem.
III - Guemilut Chassadim
A tradução de Guemilut Chassadim é difícil, mas significa "realizar atos de bondade e justiça". Este conceito é muito amplo e pode conter inúmeros outros conceitos e atitudes.
Vale a pena diferenciar Guemilut Chassadim e Tsedaká. Tsedaká (geralmente traduzido como "caridade") é o ato de dar "daquilo que você tem", já Guemilut Chassadim é dar "daquilo que você é".
A Tsedaká está limitada a um quinto das posses da pessoa (20%), já a Guemilut Chassadim é um tipo de ato de bondade para a qual "nenhuma medida de limite é prescrita" ( Peá I,1). Portanto, pode ser realizada sem limites.
Os rabinos estavam muito preocupados não apenas em melhorar as condições de vida dos pobres, senão em prevenir a própria pobreza. Além disso sabiam cuidar da sensibilidade daqueles que recebiam a Tzedaká - os rabinos desejavam poupar-lhes uma possível perda de auto-respeito.
Duas são as formas usadas para evitá-lo. Uma é a de fazer a Tsedaká em segredo. Este será o nosso próximo tema. A outra é a fórmula explicada no Talmud: "ajudar a um homem a ajudar a si mesmo". Essa forma de auxílio era um elevado grau de beneficência.
Está escrito: "Na escala da caridade, o grau mais elevado consiste em segurar um homem que está caindo, impedi-lo de cair e tornar-se uma carga para todos, oferecendo-lhe um presente, um empréstimo, a sociedade num negócio ou encontrando um emprego para ele".
Dessa forma a ajuda não humilha aquele que a recebe e este pode se reerguer.
De modo geral, Guemilut Chassadim pode conter muitos outros costumes e preceitos do Judaísmo.
Fontes Judaicas
01) Talmud Babilônico, Shabat 63 a
Aquele que empresta sem juros é mais merecedor do que aquele que dá esmolas; e aquele que investe na empresa do pobre é o mais digno de todos.
02) Talmud de Jerusalém, Peá 9,21 b
Dizia Rabi Ioná: "Não está escrito: Bem-aventurado o que dá ao pobre e sim, Bem-aventurado o que considera o pobre (Salmos 41,1) - isto é quem medita sobre como cumprirá o mandamento de auxiliar ao pobre".
Como agia Ioná? Quando olhe sucedia encontrar um homem de boa família empobrecido, dizia-lhe: "Ouvi dizer que há uma herança para vós. Levai este dinheiro adiantado, mais tarde o devolvereis". E, se o outro aceitava, o rabi dizia-lhe: "É um presente".
03) Pirkei Avot 1
De três coisas depende a existência do mundo: Torá (Lei), Avodá (Serviço Divino) e Guemilut Chassadim (atos de bondade/beneficência).
04) Avot de Rabi Natan 41,66 a
Aquele que dá esmolas faz jus a uma benção. Mas, o que empresta merece mais. E o que entrega dinheiro ao pobre, para comerciar, ou se associa a ele, é o mais merecedor.

Nedavot são as ofertas voluntárias, sem valor definido, que alguém poderia dar, além das terumá e da tsedaká, conforme o que tinha no coração.
Material consultado:
Dra. Cláudia Ferreira
Conclusão: falar sobre esse assunto é algo incômodo e complicado. Eu pessoalmente não gosto de falar nisso, mas é importante que tenhamos consciência de que ofertar é um mandamento, não só em termos individuais, mas também em termos comunitários.
Na torah está escrito que a oferta é do órfão, da viúva e do levita. Ou seja, a menor parte deve ir para necessidades internas da comunidade e a maior para assistência social. Como não temos levita aqui e todo trabalho feito é voluntário, cobrimos apenas as despesas e gastos.
Mas devemos como comunidade pensar seriamente em algum objeto de tsedaká, também para sermos abençoados e crescermos em conjunto. Tenhamos porém em mente que se não dermos com o coração, se não dermos com alegria e certeza de que, ao darmos, estamos beneficiando quem recebe e alegrando o coração do Eterno, se não dermos com a certeza de que, ao darmos, não estamos deixando a descoberto nenhuma das pessoas pelas quais somos responsáveis naquilo que lhes é essencial, se não dermos com um coração perdoador e em paz com todas as pessoas, é melhor não darmos.

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Parashá Vayigash

Parashah Vayigash

Bereshit / Gênesis 44:18-47:27

Resumo da Parashah:

No capítulo 45 de Bereshit, Judá fala a José oferecendo-se para se colocar no lugar de Benjamin, que o segundo quer reter no Egito. Então José não consegue se conter e se faz conhecer como o irmão perdido há tantos anos. Perdoa os irmãos e não lhes impõe culpa, ao contrário, diz que tudo foi um plano de D’us para a salvação de todos.

Ele chama toda sua família para morar no Egito, amparado e estimulado pelo Faraó. Envia os irmãos ao pai cheios de presentes e estes anunciam a ele o fato de José estar vivo. Jacob não acredita de início, mas vendo os carros mandados por José, termina acreditando.

No capitulo 46 de Bereshit, Deus fala a Jacob e o envia à terra do Egito, dizendo que irá com ele, e que lá Ele fará de seu povo uma grande nação. Todos partem para o Egito. Segue a enumeração das famílias dos filhos de Jacob que foram para o Egito, sessenta e seis pessoas, setenta se contando o próprio Jacob, José e seus dois filhos.

No capítulo 47, a família ocupa a terra de Goshen e Jacob abençoa a Faraó.
A fome continua na terra, e, tendo recolhido toda prata do povo em troco de comida, agora José recebe gado e terra, e, apesar de os egípcios se oferecem como escravos, José não aceita. Ele coloca o povo para semear sobre toda a terra agora pertencente Faraó (com a exceção da terra dos sacerdotes) devendo devolver-lhe o quinto da colheita.

Comentário:

No início da Parashá, em Bereshit 44:33 está escrito:
Agora fique, rogo, teu servo em lugar do moço, como escravo de meu senhor, e o moço suba com seus irmãos.
Judá, em sua fala, tipifica Yeshua. Ele se oferece para se colocar no lugar de Benjamin, assim como Y’shua se colocou em nosso lugar.

No capítulo 45 verso 5, lemos:
E agora, não vos entristeçais e não vos irriteis por me haverdes vendido para cá, porque para preservar vossa vida me mandou Deus adiante de vos, para vos dar uma descendência sobre a terra e fazer-vos viver uma grande salvação.

O sentido original de grande salvação, em hebraico, lifleitah gedolah, é: por meios extraordinários dar grande livramento, manter vivo, dar uma grande sobrevivência, assegurar-se de que muitos sobrevivam.

Nessa passagem, José é o tipo de Y’shua; aquele que Hashem usou, enviando para a terra do Egito (a Terra), onde viveu e sofreu injustiças, foi encontrado sem mácula, como José, apesar das acusações de muitos, foi preso, torturado, e depois exaltado por Hashem, para nos dar grande livramento, para assegurar-se que muitos sobrevivam.

Essa passagem nos fala da postura que devemos ter em relação à morte de Y’shua; muitos acusam o b’nei Yisrael de terem matado Y’shua. A resposta, no entanto, é essa: assim como para preservar a vida Hashem mandou José adiante deles, assim também Y’shua foi morto e sacrificado, para fazer o mundo viver uma grande salvação, concentrando nele todo tikun do mundo e assim possibilitando uma volta ao Pai a todo aquele que assim o desejar, crendo nesse livramento. Era necessário que fosse assim, como ele mesmo afirmou antes que fosse preso e crucificado.

Assim como José, que se acreditava morto, Y´shua ressurge da morte transformado, com novas vestimentas e novo poder, tendo passado pelo sacrifício, e abraça seus irmãos, convidando-os a entrar em um reino de regozijo e saciedade.

Em Bereshit 45:10
José manda um recado dizendo a seu pai que eles habitarão na terra de Goshen. Goshen era uma área no Delta do Nilo a oeste do canal de Suez, ao mesmo tempo perto da capital, onde estava José, e de Canaan. O grande historiador Flavius Josephus identificou a área como a região de Heliópolis, no Cairo, que era considerada a área mais fértil do país.

Quando Hashem chama e envia, ele dá o melhor. José e o Faraó não se contentaram em dar qualquer região do país ao povo de Yisrael, mas a mais fértil e a melhor situada.

No capítulo 45 versículo 24, José diz a seus irmãos, quando se despede deles:
Não tenhais desavenças no caminho.
Vayeshalach et- echan vayelechu vayomer alehem altingezu ladarech

Essa frase foi interpretada de várias maneiras por vários sábios e eruditos judeus:
Não tenhais agitação (Radak)
Não tenhais raiva
Não tenhais desconforto, medo ( Bekor Shor)
Preocupação, (Rahban)
Brigas (Rashi)
Não fiqueis envolvidos com outras coisas pelo caminho

O caminho dos filhos de Yisrael até Canaã para buscarem suas famílias e as trazerem até José e a salvação tipifica o caminho de todos nós até Y’shua e a salvação oferecida através dele por Hashem. Durante essa viagem, vários conselhos nos são dados nas Escrituras e pelo próprio Y’shua, assim como por José a seus irmãos.
Não se agitar (aquietai-vos e sabei que eu sou D’us)
Não ter raiva (Irai-vos, e não pequeis)
Não ter medo (Não temais)
Não ter preocupação (não vos inquieteis pelo que havereis de comer e beber...)
Não ter brigas ( Amai-vos uns aos outros)
finalmente, o não ficar envolvidos pelo caminho nos faz lembrar da parábola do semeador.



Em Bereshit 46: 3
E disse (O Eterno) Eu sou D’us, D’us de teu pai; não temas descer ao Egito, porque lá eu farei de ti uma grande nação. E descerei contigo ao Egito, e Eu te farei subir também, e José porá a mão sobre teus olhos.

Deus falava com Jacó, falou com ele várias vezes em sua vida, e, no entanto, durante todos os anos em que José esteve desaparecido, D’us não lhe disse que seu filho estava vivo, mas deixou-o imerso em sua dor, acreditando na perda do filho querido de Raquel.

Há momentos em que D’us fala e outros em que Ele se cala. Podemos pensar que, se D’us tivesse falado, seu plano de salvação para o povo de Yisrael através de José não teria se realizado. Seu pai teria ido atrás dele, talvez, e ele não teria se tornado o salvador de sua família; se pensarmos que, mais tarde, foi através do acontecido a José que D’us separou o povo de Yisrael e criou sua identidade como povo durante seus 400 anos no Egito, vemos a importância e a utilidade do silêncio de Hashem.

No entanto, mesmo sem falar a Jacob que seu filho estava vivo, o Eterno cuidou dele e concretizou seu plano em sua vida, mantendo-o fiel e íntegro. Muitas vezes temos a tendência de nos preocupar em relação a nossos filhos, a nossas circunstâncias. Queremos saber de tudo, queremos controlar tudo e não nos contentamos com o silêncio de D’us. Que possamos nos lembrar de que Hashem não precisa de nós para cumprir com sua vontade nem para cuidar do modo perfeito dos nossos. Precisamos nos lembrar ainda que os caminhos de Hashem não são os nossos, e que, muitas vezes o que consideramos uma tragédia por não sabermos ou pelo Eterno estar silencioso, lá na frente se revelará como bênção salvadora.

Em 46:4,
Eu descerei contigo ao Egito, e Eu te farei subir também, e José porá a mão sobre os teus olhos.
Quando Hashem diz a Jacob Eu descerei contigo, Ele fala da sua shechinah.

Quando Ele nos envia, seja aonde for, podemos ter certeza de que sua shechinah vai conosco, assim como foi com Jacob para a terra do Egito e como voltou de lá para Canaã, cumprindo com sua promessa a Jacob 400 anos depois, guiando os B’nei Yisrael pelo deserto durante 40 anos de volta à Terra Prometida.

Em 46:5, vemos:

Esse versículo nos remete a outro, em Provérbios 24:16:
Sete vezes cai o justo, e se torna a levantar. Prov 24:16

Segundo a tradição judaica, as sete quedas, as sete angústias de Jacob foram:
Esaú, Labão, o Anjo, Diná, José, Simão e Benjamim.
O Midrash diz, em Tehilim 16:

Se desejas a vida, suporta os sofrimentos.

Hashem não promete que o justo não cairá, mas que ele se levantará após sua queda, pois, como a própria vida de José mostra, os sofrimentos servem para nos aprimorar e nos aproximar de Hashem e de sua missão para nós.
É interessante notar a mudança de postura de Jacob: da incredulidade total, até levantar-se e deixar-se levar por seus filhos, assim que Hashem fala com ele. Que nós possamos nos lembrar de que, como justos, justificados diante do Eterno pela expiação de Y’shua, podemos nos levantar segundo a sua palavra e caminhar em direção à nossa Terra Prometida.

No capítulo 46, versículo 29:

E aprontou José seu carro, e subiu ao encontro de Yisrael, seu pai, em Goshen, e, tendo-se-lhe apresentado, atirou-se sobre o seu pescoço, e chorou muito sobre seu pescoço.

José, com figura de Y’shua, nessa passagem nos remete à parábola do filho pródigo:
Em Lucas 15: 20, lemos:

E, levantando-se, foi para seu pai. Vinha ele ainda longe, quando seu pai o avistou, e, compadecido dele, correndo, o abraçou e beijou.

Como José, na parábola, o Pai é Hashem, que tem uma postura ativa ao receber aquele que está longe. O Eterno não se contenta em ficar no seu lugar e esperar que façamos todo o caminho até ele, mas se levanta e vem ao nosso encontro, nos abraçando e beijando, para que saibamos que somos realmente amados. Foi isso que o Eterno fez enviando Y’shua ao mundo. Caminhou até nós, abraçou-nos e nos beijou, mostrando-nos a sua salvação. Como o filho pródigo voltou a viver na casa do pai onde reinava a abundância, a família de Yosef, faminta e empobrecida, entrou na abundância do Egito.

No capítulo 46:28
Vemos novamente Judá tipificando Y’shua:

E a Judá mandou adiante dele, para José, para preparar-lhes lugar em Goshen; e foram à terra de Goshen.

Assim com Judá, Y’shua foi adiante de nós para nos preparar lugar, como ele mesmo mencionou, na melhor das terras. E nós iremos à terra que ele preparou.

No capítulo 47: 7:

E trouxe José a Jacob seu pai, e pô-lo diante do Faraó. E abençoou Jacob ao Faraó.

Aqui vemos o patriarca de Yisrael abençoando o próprio Faraó e pensamos em todo o caminho que ele percorreu, lutando com homens, lutando com o anjo, perdendo entes queridos, recuperando a esperança. Aquele que recebe a autoridade de Hashem, aquele que é ungido do Eterno, não importa onde esteja, a ele se submetem os que reconhecem o poder do Eterno. Nesse caso, é Jacob, que está sendo materialmente abençoado pelo Faraó e que o abençoa espiritualmente. Dizem alguns eruditos que é por causa dessa benção que a Torah cita que a fome, em vez dos cinco anos restantes, durou apenas dois anos.

A Parashah termina no verso 27 de Bereshit 47, dizendo:

E esteve Yisrael na terra do Egito, na terra de Goshen; e adquiriram possessões, e frutificaram, e multiplicaram-se muito.

Que nós possamos também, como os b’nei Yisrael, adquirir possessões onde a ferrugem não corrói e a traça não come, frutificar a cem por um e multiplicar em muito o número dos que crêem para que possamos entrar, como os filhos de Jacob, na terra de abundância e descanso.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Parashá Miketz

Perdão
José passa 22 anos longe da família, vendido pelos irmãos a mercadores, escravo e preso no Egito, tornando-se mais tarde o segundo homem em autoridade naquele país. 22 anos é muito tempo para remoer uma injustiça. 22 anos é tempo para pensar com detalhes no que fará quando os sonhos, nos quais irmãos se curvam diante dele, se realizarem. Para pensar em que atitude tomará quando os irmãos vierem e se curvarem.
Em 22 anos, o irmão vendido se torna o sub-chefe do Egito. Em 22 anos, ele se transforma no salvador, não só daquele país, mas de toda a população do entorno. A ele vêm aqueles que não se preveniram, aqueles que não tiveram a graça divina de receberem a revelação do que viria e de como se preparar. Em 22 anos, o escravo se transforma em mestre, o rejeitado em adulado por todos. 22 anos é muito tempo para tecer conjecturas sobre o que aconteceu. Sobre a vida do pai, dos irmãos. Sobre o momento da vingança. E o que vemos no centro nessa parashá é a luta interior de um homem. A intensa guerra entre ressentimento e perdão, entre vingança e generosidade. A parashá termina nos deixando em suspense quanto à decisão final de Yossef: perdão ou vingança? Generosidade ou rancor?
A parashá Mikêts fala do processo pelo qual um homem passa até se tornar capaz de perdoar, ou melhor, até que o perdão exploda dentro dele de modo incontrolável. É com muito choro e emoção que veremos na próxima parashá a reconciliação de Yossef e seus irmãos.
O processo ao qual ele os submete, a seus algozes do passado, é longo e doloroso para ambas as partes, cheio de estratagemas, mentiras e subterfúgios. O objetivo? Segundo o Midrash, descobrir se eles tinham realmente se arrependido do que fizeram no passado ou se continuavam a pensar e a agir da mesma maneira. Ou talvez submetê-los a um processo em que fossem levados ao arrependimento pelo que fizeram.
O importante é que tudo isso culmina com um perdão irrestrito e total.
Isso me faz lembrar o que Yeshua falou sobre perdão, em Mateus 18: 22:
¶ Então Pedro, aproximando-se dele, disse: Senhor, até quantas vezes pecará meu irmão contra mim, e eu lhe perdoarei? Até sete?
22 Yeshua lhe disse: Não te digo que até sete; mas, até setenta vezes sete.
23 Por isso o reino dos céus pode comparar-se a um certo rei que quis fazer contas com os seus servos;
24 E, começando a fazer contas, foi-lhe apresentado um que lhe devia dez mil talentos;
25 E, não tendo ele com que pagar, o seu senhor mandou que ele, e sua mulher e seus filhos fossem vendidos, com tudo quanto tinha, para que a dívida se lhe pagasse.
26 Então aquele servo, prostrando-se, o reverenciava, dizendo: Senhor, sê generoso para comigo, e tudo te pagarei.
27 Então o senhor daquele servo, movido de íntima compaixão, soltou-o e perdoou-lhe a dívida.
28 Saindo, porém, aquele servo, encontrou um dos seus conservos, que lhe devia cem dinheiros, e, lançando mão dele, sufocava-o, dizendo: Paga-me o que me deves.
29 Então o seu companheiro, prostrando-se a seus pés, rogava-lhe, dizendo: Sê generoso para comigo, e tudo te pagarei.
30 Ele, porém, não quis, antes foi encerrá-lo na prisão, até que pagasse a dívida.
31 Vendo, pois, os seus conservos o que acontecia, contristaram-se muito, e foram declarar ao seu senhor tudo o que se passara.
32 Então o seu senhor, chamando-o à sua presença, disse-lhe: Servo malvado, perdoei-te toda aquela dívida, porque me suplicaste.
33 Não devias tu, igualmente, ter compaixão do teu companheiro, como eu também tive misericórdia de ti?
34 E, indignado, o seu senhor o entregou aos atormentadores, até que pagasse tudo o que devia.
35 Assim vos fará, também, meu Pai celestial, se do coração não perdoardes, cada um a seu irmão, as suas ofensas.

A capacidade de perdoar vem da compreensão de que nós, e ninguém mais, somos responsáveis por tudo que nos acontece, de que nada é para mal e de que já somos objeto de graça e perdão tão grandes que não temos o direito de negá-lo a ninguém. Essa parábola mostra claramente que qualquer dívida que acharmos que nosso próximo possa vir a ter conosco não é nada comparado à nossa dívida para com o Eterno. Pois quem pode dizer que passa um dia sem errar, sem ceder ao Ietzer Hará? Quem passa um dia sem omissão, lashon hará, ira, covardia, medo, descrença, preguiça, procrastinação? Quem faz todos os dias, todos os mommentos, o melhor que pode? A capacidade de perdoar vem exatamente do que a parábola fala: da consciência de nossas próprias falhas. É através delas, olhando para dentro de nós mesmos, que entenderemos que nosso próximo é apenas um instrumento para nosso crescimento e que, perdoando-o, seremos perdoados na mesma medida. O próprio Yeshua intercede para que perdoados sejam aqueles que o crucificam na hora de maior dor: "Pai, perdoa-lhes porque não sabem o que fazem". Ele mesmo nos afirma que seremos julgados com a mesma medida que julgarmos nossos irmãos.
Em geral, temos pouca consciência sobre a importância do perdão. Não perdoando, não seremos perdoados, e não sendo perdoados, haverá separação entre nós e Deus. De modo que o principal beneficiado pelo perdão somos nós mesmos, e não aquele que é perdoado.

Yossef, o justo, faz na prática prova disso, quando entende que o perdão oferecido a seus irmãos permitiria a reunião da família, a vinda de seu pai ao Egito, a liberação de 22 anos de mágoa e de solidão. Ele tem consciência de que não foram na realidade seus irmãos que o venderam, mas o Eterno que o permitiu, em um plano maior para que toda aquela região fosse salva da fome, como ele mesmo afirma na parashá seguinte.
Primeiro, que nós tenhamos consciência de nossa dívida e do fato de que ela é sempre maior para com o Eterno do que qualquer dívida que qualquer pessoa possa ter para conosco, por maior que seja. Segundo, que nós tenhamos consciência de que, perdoando, estaremos primeiro livrando a abençoando a nós mesmos, para depois abençoarmos e liberarmos nosso próximo. E terceiro: se for difícil perdoar, que possamos pedir ajuda ao Eterno, principal interessado em que perdoemos, concientizando-nos de que todos nós, na realidade, um dia fomos um só com Ele e que um dia voltaremos a conviver sem essa ilusão de separação e antagonismo.

sábado, 21 de novembro de 2009

Parashá Toledot

Lucas 12:22
22E disse Yeshua aos seus discípulos: Portanto vos digo: Não estejais apreensivos pela vossa vida, sobre o que comereis, nem pelo corpo, sobre o que vestireis.
23 A vida é mais do que o sustento, e o corpo mais do que as vestes.
24 Considerai os corvos, que nem semeiam, nem segam, nem têm despensa nem celeiro, e Deus os alimenta; quanto mais valeis vós do que as aves?
25 E qual de vós, sendo solícito, pode acrescentar um côvado à sua estatura?
26 Pois, se nem ainda podeis as coisas mínimas, por que estais ansiosos pelas outras?
27 Considerai os lírios, como eles crescem; não trabalham, nem fiam; e digo-vos que nem ainda Salomão, em toda a sua glória, se vestiu como um deles.
28 E, se Deus assim veste a erva que hoje está no campo e amanhã é lançada no forno, quanto mais a vós, homens de pouca fé?
29 Não pergunteis, pois, que haveis de comer, ou que haveis de beber, e não andeis inquietos.
30 Porque as nações do mundo buscam todas essas coisas; mas vosso Pai sabe que precisais delas.
Buscai antes o reino de Deus, e todas estas coisas vos serão acrescentadas.

Essa passagem se relaciona de modo direto à Parashá de hoje, que nos conta de dois irmãos cujas prioridades eram diferentes. Esaú, homem caçador, prático, violento, sanguíneo, troca seu direito de primogenitura por um prato de lentilhas com carne preparado por seu irmão Jacó.
Dentro de nós há um Esaú e um Jacó constantemente brigando. Nosso Esaú, totalmente ligado ao 1% do mundo material, se esquece de que é no mundo espiritual que as verdadeiras batalhas e vitórias acontecem. Extremamente confiante de si mesmo e de sua força, confiante naquilo que acha que é seu por direito de nascença, por direito adquirido quando de sua entrada no mundo material, não se esforça para mover as coisas no âmbito do espírito. Esse nosso dilema constante. Invertermos a ordem em nosso interior, em nosso tempo, em nossas ações, em nossas prioridades. Trocamos constantemente nosso direito de primogenitura por um mero prato de lentilhas, quando desprezamos nosso relacionamento com o Eterno, nossa vida com Ele, nosso tempo de meditação e oração em sua presença, nosso descanso no shabat, o cumprimento das mitsvot, o estudo da Torá, trocando tudo isso por interesses momentâneos, meramente ligados ao mundo material e ao relacionamento horizontal com nosso próximo. Trocamos a busca do espiritual pela futilidade do sucesso e bem estar financeiro, esquecendo-nos de que nada disso nos trará a verdadeira plenitude e alegria, pois só poderemos ser realmente preenchidos e satisfeitos por aquilo que nos encheu e nos tornou plenos no início – a presença do Eterno, nossa união com Ele.
O trecho do discurso do rabino Yeshua fala exatamente sobre como é tola, superficial e inútil toda preocupação material – o que comeremos ou vestiremos, que, transportando para a complexa sociedade contemporânea se desdobraria em outros fatores como com que tipo de veículo deslocaremos, com o que preencheremos nossas horas de lazer e o que ostentaremos.
Ele desenvolve o texto, usando a natureza para citar exemplos de como somos realmente sustentados nesse mundo material, como tudo foi pensado e programado, arquitetado de modo maravilhoso para nos manter vivos e íntegros. Em seguida, fala claramente que se preocupar com o material na realidade é sinal de falta de fé. A fé é descrita mais tarde como a certeza das coisas que não se vêem, e esse é nosso grande desafio em tanto que seres dotados de apenas cinco sentidos que nos limitam ao conhecimento e sensação do que é material. Como inverter as coisas e ter certeza do que não se vê? Como descobrir que na realidade 2 e 2 são 5 e que é o invisível que domina o visível? Como sentir-se confiante, seguro e pleno em um mundo sobre o qual não temos o mínimo controle?
Eu costumo dizer que a lucidez sem fé é o inferno. Todos nós somos tomados por certa dose de estultícia, de burrice, de cegueira intelectual. Caso contrário, a vida se tornaria insuportável com os seus questionamentos, tais quais de onde viemos para onde vamos, por que, e, mais importante, para que estou aqui? Como atingir esse estado de fé em que o oculto se torna claro e o invisível passa a valer mais do que o que se toca à nossa volta? A resposta também se encontra no texto, assim como é indicada na Parashá Toledot. Pela ação. Buscai, antes, o Reino de Deus e todas essas coisas vos serão acrescentadas. A palavra chave, o verbo e alma da frase é buscar, que no judaísmo rabínico posterior foi substituído pela palavra estudar e que, no fundo, tem o mesmo sentido. Em quase todo tratado ou comentário à Torá se fala da importância de se estudá-la para adquirir a iluminação. Como se busca ao Reino de Deus? Estudando. Estudando o quê? As escrituras. E como se estuda? Inúmeros livros e manuais já foram escritos sobre esse tema tão importante. Estuda-se passando tempo, concentrado, ligado, absorvendo o que se ouve ou se lê. Estuda-se, dialogando com o mestre, tirando as dúvidas e colocando as questões que surgirem. Estuda-se interagindo com aquele que ensina, seja ele real ou virtual. Sem interação, todo estudo e toda busca são inúteis. Como, então, trazer para nossa realidade interior esse Reino de Deus, essa consciência do poder e da primazia do espiritual sobre o material? Pela busca, pelo estudo, pela prática. Fazendo isso, estaremos plantando em nós a certeza de Jacó, que se tornou pai de uma nação e com quem a bênção do Eterno estava: a primogenitura vale muito mais do que um prato de lentilhas, a plenitude espiritual é muito mais importante e duradoura do que a material.
Como Esaú, no texto (ele disse a Jacó: Dá-me o prato de lentilhas, senão morrerei!) nosso Yetzer Hará nos leva a crer que não podemos viver sem ele – sem a televisão cotidiana, sem as conversas no telefone e no MSN, sem os joguinhos na internet, sem a ambição e a dedicação ao trabalho que nos move e nos faz ter sucesso, sem as horas extras que nos trazem renda adicional, sem o lazer total do shabat, sem a zona de conforto... como é bom, quando se está esfomeado, um prato de lentilhas. Mas o mais incrível e que, como Esaú, queremos crer que, apesar de termos vendido nossa primogenitura, desprezando-a, ainda teremos direito à bênção de nosso pai, e nos revoltamos quando nosso irmão, que teve a visão espiritual, que se dedicou, estudou e viveu na zona do desconforto, a conquista em nosso lugar. Que nós possamos buscar e obter a lucidez com fé de que precisamos para enxergarmos, como Jacó nos ensina, como Yeshua tão claramente nos ordena, que é buscando o Reino de Deus que todo o resto – toda plenitude, que é tudo que verdadeiramente almejamos – nos será acrescentado.

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Lech Lechá - Anda para Ti - ser bênção para ser abençoado

1 Ora, disse o ETERNO a Abrão: Sai da tua terra, da tua parentela e da casa de teu pai e vai para a terra que te mostrarei;
2 de ti farei uma grande nação, e te abençoarei, e te engrandecerei o nome. Sê tu uma bênção!

A verdadeira bênção é ser uma bênção.

A caminhada ordenada pelo Eterno a Avram é a caminhada que todos nós somos chamados a fazer. Na vida, nosso objetivo é sairmos do mundo em que somos plantados pelo nascimento – nossa parentela, a casa de nosso pai, a visão materialista das coisas que as crianças têm e que muitos guardam até a morte – para a terra que o Eterno nos mostrar – o mundo da espiritualidade, que se descortina progressivamente à medida que caminhamos o caminho mostrado por HaShem. Durante essa caminhada, Ele faz a Avram três promessas e lhe dá uma ordem, que podemos aplicar a nós mesmos:
1- De ti farei uma grande nação: se caminharmos o caminho do Eterno, formaremos de nós uma grande nação, daremos frutos: aqueles que aprenderem conosco, aqueles a quem influenciarmos com nossa luz, aqueles que se beneficiarem de nosso amor, representados por nossos filhos espirituais e físicos, que se enriquecem com nosso caminhar na trilha mostrada pelo Eterno.
2- Te abençoarei: Sem dúvida, se caminharmos o caminho mostrado pelo Eterno, seremos abençoados com paz, plenitude e prosperidade em seu sentido mais amplo, como consequências naturais de nossa maneira de agir. A lei da semeadura é imutável e irrevogável e, caminhado o caminho para a Terra mostrada pelo Eterno, forçosamente plantaremos bem e colheremos bênçãos.
3- Engrandecerei o teu nome: Aquele que caminha o caminho do Eterno é reconhecido como modelo e parâmetro pelos que almejam o bem. À medida que se aproxima da terra prometida, seu nome é mais e mais engrandecido, seu exemplo é mais e mais visto, a tal ponto que coisas extraordinárias podem acontecer. Eu estava lendo a biografia de Dale Carnegie, autor do famoso livro "Como fazer amigos e influenciar pessoas",homem simples, nascido em uma fazenda, vaqueiro inculto, que finalmente passou a viajar os quatro cantos do mundo para dar palestras sobre relacionamento humano. Ele se colocou no caminho do andar para si mesmo, andar para dentro de si mesmo, na descoberta de sua riqueza e atributos interiores, ao mesmo tempo em que caminhava para a terra da espiritualidade mostrada pelo Eterno. O próprio Talmude afirma que não há quem comece a vida pobre que, estudando a Torá cuidadosamente, não a termine rico.

Finalmente, a ordem que o Eterno nos dá, além da de caminharmos para nós, é sermos bênção. Sermos bênção e caminharmos são condições para nos tornarmos uma grande nação, termos um nome engrandecido e sermos abençoados.
O ser uma benção implica em abençoar e interagir. A-bem-çoar significa dar, emanar, produzir bem. Não se pode ser uma bênção no isolamento. O ato de abençoar subentende alguma forma de interação, seja ela direta ou indireta, com o próximo. Implica em dedicação ao próximo, em ação, simbolizada no caminhar. É impossível se ser uma bênção sem caminhar, sem agir. Na omissão e na passividade não conseguimos tirar nosso foco de Malchut (nossa casa e nossa parentela) e avançar para a Terra prometida (Kether), o mundo espiritual, o que nos transformará em bênção.
O rabino Yeshua falou bem claramente sobre isso em Mateus 26:
Quando eu, o Machiach, vier em minha gloria, e todos os anjos comigo, então Eu me assentarei no meu trono de glória. E todas as nações serão reunidas diante de mim. Eu separarei as pessoas, como o pastor separa as ovelhas dos bodes. Colocarei as ovelhas a minha direita, e os bodes a minha esquerda. Então EU, o Rei, direi aqueles a minha direita: “Venham, bneditos do meu Pai, para o Reino preparado para vocês desde a fundação do mundo. Porque eu tive fome, e vocês me deram de comer; eu tive sede, e vocês me deram égua. Eu era um estrano, e vocês me convidaram para suas casas. Eu estive nu, e vocês me vestiram. Eu estive doente, na prisão, e vocês me visitaram. Então esses justos responderão: Senhor, quando foi que nos fizemos isso? E eu, o Rei, lhes direi: Quando vocês fizeram isso ao menor desses meus irmãos, estavam fazendo a mim. Depois, eu me voltarei para aqueles a minha esquerda e direi: Fora daqui, malditos, para o fogo eterno preparado para hasatan e seus demônios. Porque eu tive fome, e vcs não me deram de comer: tive sede, e vcs não me deram nada para beber. Fui estranho, e vocês me recusaram hospedagem. Eu estive nu, e vocês não quiseram vestir-me. Estive doente, na prisão, e vocês não me visitaram. Então eles responderão: Quando fizemos essas coisas? E eu responderei: Quando se recusaram a socorrer ao menor desses irmãos, vocês estavam recusando ajuda a mim.”
Avraham, como sabemos, foi um homem que cumpriu com esses preceitos, muito antes de Yeshua vir a terra. Prova disso é que hospedou os três viajantes, dentre eles o Eterno, convidando-os para sua casa e fazendo para eles um banquete, mesmo estando ainda se recuperando do doloroso brit milá feito na idade adulta e com parcos recursos médicos. Esse é o parâmetro do ser benção que devemos ter.
A expressão Lech Lechá – andar para ti– nos dá a entender que o principal beneficiado com essa caminhada da obediência e do serviço somos nós mesmos, alcançando enfim a terra prometida da plenitude e da espiritualidade completa.
Se continuarmos lendo a parashá, veremos que essa caminhada não está isenta de tropeços. A covardia fez com que Avram entregasse sua mulher ao faraó e mentisse, dizendo ser seu irmão, e a impaciência fez com que ele gerasse Ismael antes do prometido Isaque, causando uma série de problemas futuros, tanto em nível familiar quanto étnico. Mas a característica principal de Avraham era a obediência ao Eterno, o que permitiu que, apesar dos erros e percalços do caminho, ele chegasse à terra prometida e ainda enriquecesse sobremaneira, tanto no sentido físico como espiritual, durante essa mesma caminhada.
Que nós possamos, como Avram, ser bênçãos e ser abençoados em todos os sentidos. Que possamos não perder a visão de que somos chamados a caminharmos para nós mesmos, em direção â terra mostrada por Deus. Novamente, a caminhada de Avraham é, na realidade, a nossa caminhada pela vida. Uma caminhada de serviço e obediência.