sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Lech Lechá - Anda para Ti - ser bênção para ser abençoado

1 Ora, disse o ETERNO a Abrão: Sai da tua terra, da tua parentela e da casa de teu pai e vai para a terra que te mostrarei;
2 de ti farei uma grande nação, e te abençoarei, e te engrandecerei o nome. Sê tu uma bênção!

A verdadeira bênção é ser uma bênção.

A caminhada ordenada pelo Eterno a Avram é a caminhada que todos nós somos chamados a fazer. Na vida, nosso objetivo é sairmos do mundo em que somos plantados pelo nascimento – nossa parentela, a casa de nosso pai, a visão materialista das coisas que as crianças têm e que muitos guardam até a morte – para a terra que o Eterno nos mostrar – o mundo da espiritualidade, que se descortina progressivamente à medida que caminhamos o caminho mostrado por HaShem. Durante essa caminhada, Ele faz a Avram três promessas e lhe dá uma ordem, que podemos aplicar a nós mesmos:
1- De ti farei uma grande nação: se caminharmos o caminho do Eterno, formaremos de nós uma grande nação, daremos frutos: aqueles que aprenderem conosco, aqueles a quem influenciarmos com nossa luz, aqueles que se beneficiarem de nosso amor, representados por nossos filhos espirituais e físicos, que se enriquecem com nosso caminhar na trilha mostrada pelo Eterno.
2- Te abençoarei: Sem dúvida, se caminharmos o caminho mostrado pelo Eterno, seremos abençoados com paz, plenitude e prosperidade em seu sentido mais amplo, como consequências naturais de nossa maneira de agir. A lei da semeadura é imutável e irrevogável e, caminhado o caminho para a Terra mostrada pelo Eterno, forçosamente plantaremos bem e colheremos bênçãos.
3- Engrandecerei o teu nome: Aquele que caminha o caminho do Eterno é reconhecido como modelo e parâmetro pelos que almejam o bem. À medida que se aproxima da terra prometida, seu nome é mais e mais engrandecido, seu exemplo é mais e mais visto, a tal ponto que coisas extraordinárias podem acontecer. Eu estava lendo a biografia de Dale Carnegie, autor do famoso livro "Como fazer amigos e influenciar pessoas",homem simples, nascido em uma fazenda, vaqueiro inculto, que finalmente passou a viajar os quatro cantos do mundo para dar palestras sobre relacionamento humano. Ele se colocou no caminho do andar para si mesmo, andar para dentro de si mesmo, na descoberta de sua riqueza e atributos interiores, ao mesmo tempo em que caminhava para a terra da espiritualidade mostrada pelo Eterno. O próprio Talmude afirma que não há quem comece a vida pobre que, estudando a Torá cuidadosamente, não a termine rico.

Finalmente, a ordem que o Eterno nos dá, além da de caminharmos para nós, é sermos bênção. Sermos bênção e caminharmos são condições para nos tornarmos uma grande nação, termos um nome engrandecido e sermos abençoados.
O ser uma benção implica em abençoar e interagir. A-bem-çoar significa dar, emanar, produzir bem. Não se pode ser uma bênção no isolamento. O ato de abençoar subentende alguma forma de interação, seja ela direta ou indireta, com o próximo. Implica em dedicação ao próximo, em ação, simbolizada no caminhar. É impossível se ser uma bênção sem caminhar, sem agir. Na omissão e na passividade não conseguimos tirar nosso foco de Malchut (nossa casa e nossa parentela) e avançar para a Terra prometida (Kether), o mundo espiritual, o que nos transformará em bênção.
O rabino Yeshua falou bem claramente sobre isso em Mateus 26:
Quando eu, o Machiach, vier em minha gloria, e todos os anjos comigo, então Eu me assentarei no meu trono de glória. E todas as nações serão reunidas diante de mim. Eu separarei as pessoas, como o pastor separa as ovelhas dos bodes. Colocarei as ovelhas a minha direita, e os bodes a minha esquerda. Então EU, o Rei, direi aqueles a minha direita: “Venham, bneditos do meu Pai, para o Reino preparado para vocês desde a fundação do mundo. Porque eu tive fome, e vocês me deram de comer; eu tive sede, e vocês me deram égua. Eu era um estrano, e vocês me convidaram para suas casas. Eu estive nu, e vocês me vestiram. Eu estive doente, na prisão, e vocês me visitaram. Então esses justos responderão: Senhor, quando foi que nos fizemos isso? E eu, o Rei, lhes direi: Quando vocês fizeram isso ao menor desses meus irmãos, estavam fazendo a mim. Depois, eu me voltarei para aqueles a minha esquerda e direi: Fora daqui, malditos, para o fogo eterno preparado para hasatan e seus demônios. Porque eu tive fome, e vcs não me deram de comer: tive sede, e vcs não me deram nada para beber. Fui estranho, e vocês me recusaram hospedagem. Eu estive nu, e vocês não quiseram vestir-me. Estive doente, na prisão, e vocês não me visitaram. Então eles responderão: Quando fizemos essas coisas? E eu responderei: Quando se recusaram a socorrer ao menor desses irmãos, vocês estavam recusando ajuda a mim.”
Avraham, como sabemos, foi um homem que cumpriu com esses preceitos, muito antes de Yeshua vir a terra. Prova disso é que hospedou os três viajantes, dentre eles o Eterno, convidando-os para sua casa e fazendo para eles um banquete, mesmo estando ainda se recuperando do doloroso brit milá feito na idade adulta e com parcos recursos médicos. Esse é o parâmetro do ser benção que devemos ter.
A expressão Lech Lechá – andar para ti– nos dá a entender que o principal beneficiado com essa caminhada da obediência e do serviço somos nós mesmos, alcançando enfim a terra prometida da plenitude e da espiritualidade completa.
Se continuarmos lendo a parashá, veremos que essa caminhada não está isenta de tropeços. A covardia fez com que Avram entregasse sua mulher ao faraó e mentisse, dizendo ser seu irmão, e a impaciência fez com que ele gerasse Ismael antes do prometido Isaque, causando uma série de problemas futuros, tanto em nível familiar quanto étnico. Mas a característica principal de Avraham era a obediência ao Eterno, o que permitiu que, apesar dos erros e percalços do caminho, ele chegasse à terra prometida e ainda enriquecesse sobremaneira, tanto no sentido físico como espiritual, durante essa mesma caminhada.
Que nós possamos, como Avram, ser bênçãos e ser abençoados em todos os sentidos. Que possamos não perder a visão de que somos chamados a caminharmos para nós mesmos, em direção â terra mostrada por Deus. Novamente, a caminhada de Avraham é, na realidade, a nossa caminhada pela vida. Uma caminhada de serviço e obediência.

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Assumindo a responsabilidade

Em Bereshit 2:6 temos um diálogo intrigante e revelador entre D-us e o primeiro casal:
6 Vendo a mulher que a árvore era boa para se comer, agradável aos olhos e árvore desejável para dar entendimento, tomou-lhe do fruto e comeu e deu também ao marido, e ele comeu.
7 Abriram-se, então, os olhos de ambos; e, percebendo que estavam nus, coseram folhas de figueira e fizeram cintas para si.
8 Quando ouviram a voz do D-us Eterno, que andava no jardim pela viração do dia, esconderam-se da presença do D-us Eterno, o homem e sua mulher, por entre as árvores do jardim.
9 E chamou o D-us Eterno ao homem e lhe perguntou: Onde estás?
10 Ele respondeu: Ouvi a tua voz no jardim, e, porque estava nu, tive medo, e me escondi.
11 Perguntou-lhe D-us: Quem te fez saber que estavas nu? Comeste da árvore de que te ordenei que não comesses?
12 Então, disse o homem: A mulher que me deste por esposa, ela me deu da árvore, e eu comi.
13 Disse o D-us Eterno à mulher: Que é isso que fizeste? Respondeu a mulher: A serpente me enganou, e eu comi.

Essa parte final do diálogo revela, segundo a cabala, a causa final da queda, da ruptura do homem, a sedimentação da separação do homem e do Eterno: além de se esconderem do Criador depois de terem comido da árvore do conhecimento do bem e do mal, tanto Adão como Eva culpam terceiros pelo seu próprio erro: “a mulher que tu me deste” “a serpente me enganou”. A cabala fala que precisamos assumir que, apesar dos outros à nossa volta também errarem e carregarem culpa, os únicos responsáveis por tudo que nos acontece somos nós mesmos. O que vivemos é o somatório de todas as nossas decisões certas e erradas tomadas na vida. Pela fuga e pelo culpar o outro pelo problema criado sedimentou-se e concretizou-se a ruptura.
Transportando-nos ao Berit HaDasha, vemos o famoso episódio da tríplice negação do apóstolo Pedro a Yeshua. Perto de onde se encontrava o rabino preso, Pedro é reconhecido três vezes como discípulo dele, e por três vezes afirma veementemente não conhecê-lo. Um erro, dir-se-ia, imperdoável.
No entanto, vemos o relato, em João 21:
Então aquele discípulo, a quem Yeshua amava, disse a Pedro: É o Senhor. E, quando Simão Pedro ouviu que era o Senhor, cingiu-se com a túnica (porque estava nu) e lançou-se ao mar.
8 E os outros discípulos foram com o barco (porque não estavam distantes da terra senão quase duzentos côvados), levando a rede cheia de peixes.
9 Logo que desceram para terra, viram ali brasas, e um peixe posto em cima, e pão.
10 Disse-lhes Yeshua: Trazei dos peixes que agora apanhastes.
11 Simão Pedro subiu e puxou a rede para terra, cheia de cento e cinqüenta e três grandes peixes e, sendo tantos, não se rompeu a rede.
¶ E, depois de terem jantado, disse Jesus a Simão Pedro: Simão, filho de Jonas, amas-me mais do que estes? E ele respondeu: Sim, Senhor, tu sabes que te amo. Disse-lhe: Apascenta os meus cordeiros.
16 Tornou a dizer-lhe segunda vez: Simão, filho de Jonas, amas-me? Disse-lhe: Sim, Senhor, tu sabes que te amo. Disse-lhe: Apascenta as minhas ovelhas.
17 Disse-lhe terceira vez: Simão, filho de Jonas, amas-me? Simão entristeceu-se por lhe ter dito terceira vez: Amas-me? E disse-lhe: Senhor, tu sabes tudo; tu sabes que eu te amo. Jesus disse-lhe: Apascenta as minhas ovelhas.


Esse é o relato do primeiro encontro de Pedro com Yeshua depois da negação. E o que Pedro faz? Simplesmente, em vez de fugir, lança-se ao mar e se joga na direção de Yeshua, na direção daquele contra quem ele errou, a quem ele traiu. Ele assume a culpa, afirma o amor pelo mesmo número de vezes em que o negou e é perdoado. Sabemos pelos relatos históricos que Pedro seguiu firme até a morte, quando foi crucificado, a seu próprio pedido, de cabeça para baixo, por não se achar digno de morrer como seu mestre.
O que isso mostra? Diante de nossos erros e nossas dificuldades, temos a opção de escolhermos uma dessas duas linhas de ação: a fuga e o culpar ao outro, ou o assumirmos a responsabilidade por nossos erros e o caminharmos de encontro à situação, para resolvê-la. Difícil? Sim. Mas a verdade é que perguntar-se: No que eu posso ter contribuído para a situação que estou vivendo? Onde foi que eu errei – e isso com seriedade e equilíbrio – em vez de focalizar a culpa do outro, em vez de se entregar à autocomiseração ou à sensação de vitimização, é a atitude mais restauradora e libertadora que se pode ter em relação a qualquer problema ou ainda a qualquer relacionamento difícil. Precisamos nos lembrar de que, no pior dos casos, no cenário mais difícil possível, ainda nos resta a alternativa de simplesmente nos retiramos da situação. E o não fazermos é opção unicamente nossa. Não o fazemos porque escolhemos não fazê-lo, e, por não tê-lo feito, devemos assumir as consequências desse fato, abraçando a situação que vivemos e sendo pró-ativos, como Pedro foi – saltou do barco e correu para a margem, ao encontro de Yeshua - e com isso foi perdoado e restaurado.
A sedimentação da queda do homem – da ruptura com Deus - aconteceu na verdade pela fuga, tanto física, se escondendo, quanto emocional – culpando o outro. Quantas vezes não fazemos a mesma coisa, com isso sedimentando ruptura com nosso próximo, ruptura com nossa paz, ruptura com nós mesmos? Que nós possamos assumir nossa responsabilidade e enfrentar todas as nossas situações, para com isso sermos perdoados e restaurados como Pedro foi.

domingo, 11 de outubro de 2009

Você fala de Jesus para os judeus por causa dos judeus ou por causa de você mesmo?

Tenho visto mtos evangélicos ou mesmo "judeus messiânicos" falarem de Yeshua para os judeus não messiânicos da forma mais gauche, descabida e desconcertante possível. Afirmam a messiandade de Yeshua de forma sutilmente agressiva, desafiadora e insensata: na verdade, eles a afirmam para eles mesmos, em algo como que um arroubo inquisidor. Yeshua não precisa ser declarado aos judeus como se fosse uma profissão de fé: profissão de fé se faz no meio de quem já acredita. Yeshua precisa ser explicado didática, inteligente e racionalmente, demonstrado por atos e vivido na prática do amor por ele preconizada. "Nisto conhecerão que sois meus discípulos, em que vos ameis uns aos outros". Não há nada mais agressivo e absurdo para um judeu tradicional do que alguém afirmar simplesmente que Yeshua é o messias de Israel e não complementar essa afirmação com dados concretos, fatos históricos, argumentação racional e crível. Quem foi Yeshua? Para começar, a maioria dos judeus, por mais religiosos que sejam, não tem a mínima idéia de suas obras e palavras. Não conhecem quem ele foi. Jamais leram qualquer palavra do Berit HaDashá. Para eles, nenhuma das técnicas de conversão evangélicas funciona. Eles falam outra língua, outro idioma. Seria o mesmo do que um americano tentar converter um japonês falando inglês. O mais estranho é que parece que ninguém atenta para isso. Parece que a obra "missionária" com os judeus se transformou na realidade em uma caçada de cabeças, em que algum judeu que se converta a Yeshua se transforma em um prêmio a ser exibido para todos, e em que, caso algum deles se mostre reticente e relutante em mudar de opinião quanto ao que aprendeu por tradição, se transforma em anátema, meliante, é melhor que se afaste mesmo, essa alma rebelde... O que digo é o seguinte: Se você quer converter judeus a Yeshua, se acha que esse é seu chamado, sua vocação pelo Eterno, pense bem - estude as escrituras, pesquise na net, leia livros, avalie suas ações - você é o espelho de Yeshua, e qualquer erro que cometer fatalmente se refletirá nele - esteja pronto a amar incondicionalmente, e a continuar amando, ainda que essa pessoa nunca aceite - ela tem essa liberdade. Um judeu convertido não é um prêmio para seu ego. E, se na verdade, você estiver falando de Yeshua para calar sua consciência, tem muita gente por aí para você tentar converter: as prisões estão cheias, as favelas e hospitais também estão cheios de gente precisando de você.
A Inquisição, com toda "boa intenção" que tinha, já fez seu trabalho sujo. Você não precisa completar a obra dela, passando por cima de sentimentos e impondo aos outros alguém que jamais se impôs a ninguém. Ele mesmo deu a fórmula: É pelo amor.

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Nosso solo, nossa alma, de Yehuda Berg

Não existe época melhor no ano para começar alguma coisa nova do que agora.

Nos últimos dois meses nos esforçamos muito para sermos pessoas melhores. Elul, Rosh Hashaná, os Dez Dias de Arrependimento, Yom Kipur, Sukot – tudo isto foi um preparo para o nosso solo. Que é nossa alma.

Não sou jardineiro, mas sei que a qualidade da colheita depende da qualidade do solo. Quanto mais você cultiva a terra [o processo pelo qual o solo é preparada através de arar, lavrar ou virar a terra], mais suas sementes criarão raízes e se desenvolverão.

Correr riscos, cavar mais fundo, implorar por perdão, examinar nossas lições, virarmos a nós mesmos pelo avesso, é exatamente o que temos feito nos últimos dois meses.

Agora o terreno está pronto.

PLANTE!

Agarre-se aos seus sonhos. Este é o momento de fazer com que eles aconteçam. E se você já estiver vivendo seu sonho, pode vivê-lo de maneiras até então desconhecidas para você.

Comece algo novo. Tire algum antigo projeto da prateleira mental e dê um sopro de vida nele. Esteja aberto para a ‘coincidência’ e para o ‘aleatório’. Há oportunidades em toda parte.

Seja arrojado e comece seu ano com um tom de certeza e sucesso.

Tudo de bom,

Yehuda

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Silêncio a dar lugar ao valor de Henry Levinspuhl

Esse texto não é meu, é do Henry, meu amigo de longa data, um escritor admirável que odiava tudo relacionado a Deus, foi estudar filosofia para refutar adequadamente os que Nele criam, e acabou apaixonado por Ele:

Se falar implica usualmente em dano é talvez porque, em geral, estamos desprovidos de espiritualidade, quando muito ainda raquítica, mirrada, nada preponderante, e mesmo quando só queremos discutir acerca dela, o que é pior que calar. A espiritualidade, o verdadeiro amor, é sábio e livre, embora mais raro do que a presunção imagina. Fora dela cumpria cultivar boa dose de precaução, e o mundo seria mais silencioso. Não é, e somos forçados a conviver com a tagarelice diária, senão mesmo com o quanto se acha no direito de derramar suas águas turvas onde quer que esteja, inundando as imediações de uma enxurrada catastrófica. A espiritualidade é bela como a brisa que farfalha as copas da vegetação profusa, e facilmente o perceberíamos se descansássemos o barulho. Então, e até sem palavras, um dia transmitiria glória a outro; a noite, a outra noite. Porém, tão persuadidos foram nossos vasos ocos de que deveriam tilintar incessantemente; ou ainda pior, pois garrafões de beberagem nociva se derramam em incessante brindar do direito conquistado para a fraude ganhar o mundo inteiro, perdendo não só a própria alma, senão ainda a dos outros. E posto que, em geral, somos desprovidos de espiritualidade, ou, quando muito, ela é ainda raquítica, mirrada, nada preponderante, tornar-se reservado seria imensa virtude, ou ao menos o caminho mais curto para chegar a ela.