terça-feira, 29 de setembro de 2009

Teoria e prática

...Disse Jesus aos seus discípulos:
«Quando o Filho do homem vier na sua glória
com todos os seus Anjos,
sentar-Se-á no seu trono glorioso.
Todas as nações se reunirão na sua presença
e Ele separará uns dos outros,
como o pastor separa as ovelhas dos cabritos;
e colocará as ovelhas à sua direita e os cabritos à sua esquerda.
Então o Rei dirá aos que estiverem à sua direita:
‘Vinde, benditos de meu Pai;
recebei como herança o reino
que vos está preparado desde a criação do mundo.
Porque tive fome e destes-Me de comer;
tive sede e destes-Me de beber;
era peregrino e Me recolhestes;
não tinha roupa e Me vestistes;
estive doente e viestes visitar-Me;
estava na prisão e fostes ver-Me’.
Então os justos Lhe dirão:
‘Senhor, quando é que Te vimos com fome
e Te demos de comer,
ou com sede e Te demos de beber?
Quando é que Te vimos peregrino e Te recolhemos,
ou sem roupa e Te vestimos?
Quando é que Te vimos doente ou na prisão e Te fomos ver?’.
E o Rei lhes responderá:
‘Em verdade vos digo: Quantas vezes o fizestes
a um dos meus irmãos mais pequeninos,
a Mim o fizestes’.
Dirá então aos que estiverem à sua esquerda:
‘Afastai-vos de Mim, malditos, para o fogo eterno,
preparado para o demônio e os seus anjos.
Porque tive fome e não Me destes de comer;
tive sede e não Me destes de beber;
era peregrino e não Me recolhestes;
estava sem roupa e não Me vestistes;
estive doente e na prisão e não Me fostes visitar’.
Então também eles Lhe hão de perguntar:
‘Senhor, quando é que Te vimos com fome ou com sede,
peregrino ou sem roupa, doente ou na prisão,
e não Te prestamos assistência?’
E Ele lhes responderá:
‘Em verdade vos digo: Quantas vezes o deixastes de fazer
a um dos meus irmãos mais pequeninos,
também a Mim o deixastes de fazer’.
Estes irão para o suplício eterno
e os justos para a vida eterna».
Mateus 25:31-46


“Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus.
Muitos, naquele dia, hão de dizer-me: Senhor, Senhor! Porventura, não temos nós profetizado em teu nome, e em teu nome não expelimos demônios, e em teu nome não fizemos muitos milagres?
Então, lhes direi explicitamente: nunca vos conheci. Apartai-vos de mim, os que praticais a iniqüidade.”
Mateus 7:21-23


Uma congregação religiosa precisa ter a ótica do Eterno. Precisa pensar no ser humano e não no dinheiro. Na prática e não em teoria apenas. Em almas e não em conhecimento desvinculado do agir. Precisa ser orientada para Deus e para o homem, não para a administração inócua da espiritualidade. Precisa ter amor pelas almas, pelo seu bem estar, precisa ver o ser humano como um todo, necessitado de bens espirituais, emocionais e materiais. Precisa ter a visão do envolver, do buscar, do trazer para perto, do discipular – e discipular é compartilhar da vida, compartilhar do dia a dia, é trocar, passar tempo junto, se abrir, ouvir e falar, sentir, ainda que, ao se fazê-lo, se abrace a vulnerabilidade que nos toca todas as vezes em que interagimos intensamente com o próximo. Precisa ter a visão do ide, mas também a do convívio, do aprofundamento, do fazer crescer e passar do leite ao alimento sólido.
Isso tudo é um processo lento, difícil, trabalhoso, sacrificial, doloroso. Um processo ao qual se entregam somente aqueles que são dignos, aqueles que entenderam a ótica de Deus – o servir, e não o ser servido, o dar, e não o receber.
Havendo o dar mútuo e recíproco, não há carência. Havendo somente o impulso do receber e do ser servido, a carência é geral e contínua, pois quem quer ser suprido não sabe suprir e com isso são criadas lacunas irremediáveis entre os indivíduos.
É preciso que entendamos que a prática do caminho é exatamente isso: prática. Essa foi a mensagem principal deixada por Jesus de Nazaré. Essa foi a mensagem principal deixada pelos Do Caminho, pelos Nazarenos: a prática. E foi por causa desta visão de prática, claro, dentro da ótica histórica maior do plano de expiação do Eterno, que Y’shua foi odiado, traído e morto pelos religiosos da época.
Precisamos tomar cuidado com a teoria e o teorizar sem fim. O conhecimento é atraente, apaixonante, viciante. Debates enchem a alma, satisfazem, de certo modo, carências profundas que temos em nós. Mas a teoria não salva. A teoria não traz pessoas ao Eterno. A teoria e o teorizar estão longe do plano e do projeto que Ele tem para as nossas vidas.
Precisamos, sim, definir nosso referencial. Precisamos optar: com quem nos identificaremos, a quem seguiremos? A Yeshua, que ousou ir contra sinédrios, escribas e fariseus, engordados de cultura religiosa, de tradições, de leis e cercas em torno delas, e com pouca ou nenhuma prática, ou mesmo uma prática que ia em sentido contrário à essência destas leis? Porque ele foi bem claro ao dizer que seus discípulos seriam reconhecidos nisto: em que se amassem uns aos outros.
Ou seguiremos exatamente a estes escribas e fariseus, ainda que nos enganemos, repudiando sua prática e modo de vida, esquecendo de reconhecer que, ao vivermos um judaísmo apenas profundamente teórico e reflexivo, estamos nos tornando exatamente como eles? Por isso é necessária uma vivência religiosa com referenciais e propósitos. Yeshua foi claríssimo no que ele disse. A ação prática e amorosa é que é resultado da verdadeira salvação. O simplesmente pregar, falar, expulsar demônios e fazer milagres não conta nesta matemática. Quem se limita a isso não entendeu nada.
Há aí um aparente paradoxo. Ele não nos enviou a pregar as boas novas? A Jerusalém, Samaria, até os confins da terra?
Sim, mas a pregação dissociada do amor é vã e infrutífera. Tem efeito efêmero e desvirtuado. Cria discípulos semelhantes ao mestre: deturpados em sua prática religiosa, hipócritas e egoístas.
Qual ótica, então escolher? Qual referencial abraçar? Yeshua foi profundamente claro no que falou e no modo como agiu:
A ótica do serviço impulsionado pelo amor e guiado pela Ruach HaKodesh.
Dar de comer, dar de beber, receber em casa ou em local providenciado para tal, vestir, visitar, são ações que cobram tempo, envolvimento financeiro, comprometimento emocional. São ações que forçam uma interação estreita, laços de alma e sentimento, continuidade.
Profetizar, fazer milagres, expulsar demônios são ações que não precisam envolver a alma. Que não cobram comprometimento com o indivíduo. Que não exigem amor ao próximo. São ações que acariciam o ego e suprem perfeitamente, ou quase, a intrínseca fome do ser humano de auto-afirmação. São atividades auto-recompensadoras por si só. São ações que, apesar de necessárias, constituem apenas uma primeira abordagem, um entrar em contato com o ser, um roçar, um prefácio no livro do relacionamento. Não são o caminho e, por isso,não salvam.
Mas são inebriantes, e existe nelas, como mostra a passagem, o perigo do se perder, do se enganar, do se espantar ao se ver confrontado com a realidade espiritual. São ações falsamente auto-justificadoras.
É preciso que acordemos para isso. Tenho visto isso no judaísmo messiânico mundial, mas principalmente no brasileiro. Muita discussão e pouca ação real. Muito farisaísmo e pouco amor.
É preciso que façamos uma auto-análise sincera à ótica das palavras de Yeshua e à ótica da essência da Torah. É preciso que não nos percamos nos deliciosos meandros, por vezes tão sofistas, do teorizar a religião, esquecendo-nos que o próprio termo significa algo prático: religar o homem ao Eterno. Agora, então, com a Internet, tornou-se extremamente fácil, quase compulsivo e obrigatório esse mundo em que relacionamentos só vão até o meio do caminho, em que um toque em um botão desliga todo vínculo emocional e espiritual, em que rostos se transformam em letras, lágrimas em imagens mortas, em que as discussões se prolongam e se acirram, enquanto lá fora há pessoas ansiando por abraços, por água, por comida, por mãos estendidas. Não quero aqui com isso dizer que a Internet é prejudicial. Longe disso. Não fosse por ela, tanto conhecimento, que potencialmente pode ser transformado em prática benéfica, não estaria sendo passado. Corações se abrem e se curam através dela, e também através dela o nome do Eterno é divulgado e honrado. Nem é ela a única vilã do desamor. A hipocrisia de uma religião dissociada do sentimento que cobra ação já existia muito antes de qualquer meio de comunicação elétrico ou eletrônico. Já existia na época de Y’shua. Muito antes dela.
O que quero dizer aqui é que é preciso haver um equilíbrio entre teoria e prática, entre palavra e ação. É preciso que despertemos para o fato de que o “fazer discípulos” definido por Y’shua é muito mais do que apenas falar dele, seja por que mídia for, ao nosso próximo. O discipular envolve enxergar o indivíduo como um todo e estender a mão para suprir suas carências onde quer que elas estejam. O discipular envolve cheiros, gostos, matéria, carências, espírito e sentimentos. O discipular é o interagir da mistura de tudo aquilo que somos.
Que nós possamos ter em mente que modelos corretos nos levam a caminhos corretos, e que, antes de tudo, nosso modelo é Y’shua HaMashiach.

Perguntas que todo judeu deveria se fazer sobre Yeshua

Perguntas que todo judeu deve se fazer em relação a Jesus de Nazaré, Yeshua HaNatzri

• Por que a atitude de negação (Judaísmo messiânico não existe!) da comunidade judaica tradicional em relação a uma vertente que já aglutina pelo menos 260 mil judeus, cujas sinagogas se espalham pelo mundo, especialmente nos EUA e Israel?
• O mercado de livros e judaica judaico-messiânico já ultrapassou o do judaísmo tradicional. O que o judaísmo messiânico tem, que o judaísmo tradicional não tem, já que cresce tanto e fomenta tanto interesse ? O que ele oferece, que atrai tantas pessoas? O que faz a diferença?
• Você quer realmente saber se Yeshua é o messias ou não? Qual a importância disso para você?
• Que grau de certeza você tem de que ele NÃO SEJA o messias? Por quê? Em que se baseia essa sua certeza?
• Você tem medo do que os outros vão pensar e fazer com você, caso acredite que Yeshua é o messias? Esse medo influencia sua decisão?
• Você se sente traindo as tradições do seu povo?
• A Inquisição e o Holocausto influenciam sua rejeição a Yeshua?
• O que seria pior diante de HaShem? Acreditar de boa fé que alguém que na realidade não é o messias o é, ou rejeitar o verdadeiro Messias enviado pelo Eterno?
• Você já pesquisou de modo objetivo, tentando descobrir se Yeshua cumpriu com as profecias sobre o messias ou não? Você conhece as probabilidades de alguém ter cumprido com todas as profecias messiânicas do Tanach que Yeshua cumpriu?

Yom Kippur

Ontem estive no Kippur, no Rio, da BTY e da CJB. Duas siglas com muito em comum e muito de diferente. Na BTY, de manhã, as músicas lindas, num crescendo de entrega e beleza, de profundidade e perdão, tive a alma lavada em choro, aquele choro bom, que limpa, desafoga, transforma e alivia, não um choro de tristeza, mas um choro de amor pelo Criador e sua infinita capacidade de perdoar e amar. Na CJB, à tarde, uma inundação de beleza: homens e mulheres de talitim e kipot de cores diversas, a música linda, a arca branca e dourada com várias torot das mais lindas em seu interior, sendo levadas, com alegria, sendo beijadas com amor e respeito, tudo num ambiente maravilhoso, o mar e o céu por moldura atrás dos vidros enormes... e a sensação de se estar perdoado, reconciliado com o Eterno, livre do peso dos pecados muitos, em um novo começo...

sábado, 26 de setembro de 2009

Judaísmo messiânico, o que é isso?

Se eu sou judia messiânica? Não. Não faço parte do que se chama atualmente no Brasil de judaísmo messiânico. Judaísmo messiânico nos moldes brasileiros, com raríssimas exceções, é para igreja evangélica "restaurando raizes judaicas". O judaísmo messiânico nos moldes brasileiros, repito, com raríssimas exceções, é um arremedo triste e periférico do verdadeiro judaísmo. Isso mesmo, daquele professado e vivido por Yeshua de Nazaré, que nunca pretendeu fundar qualquer nova religião.

Se eu acredito que Yeshua de Nazaré é o messias esperado por Israel e prometido no Tanach? Sim, integralmente. Com base em pesquisas profundas e objetivas. Mas isso é outra história, que um dia conto.

O fato é que "restaurar raízes judaicas" é muito mais do que soprar no shofar, celebrar festas à moda showbiz, vestir talit e kipá, abrir arca, passear com rolo ou falar palavras hebraicas como se fossem códigos para a abertura de alguma caixa-forte espiritual.

O "restaurar as raízes judaicas" verdadeiro é voltar lá no texto dos evangelhos e seguir direitinho o que o Filho do Homem (vide Daniel 7) falava e imitá-lo no que ele vivia. Porque infelizmente o que anda por aí é o espírito da Inquisição, naqueles que se enchem de ódio, acusam e matam espiritualmente o diferente, segregando-o por ele não acreditar da mesma forma.

Seguir Yeshua é muito mais do que crer apenas na teoria de que ele morreu na cruz para nos salvar, criando um estilo de vida totalmente esquizofrênico: acredito, mas isso não provoca em mim efeito algum. Não muda minha vida em nada.

Vestir talit como uma capa de superhomem, "fazer parte" de um povo especial, comemorar festas coloridas pode ser apenas mais um alimento para o ego, se não vier acompanhado da verdadeira mudança: viver em amor, verdade e justiça, como Yeshua viveu. Isso é restaurar raízes. O resto é balela e pirotecnia, que apenas alimenta e reforça a compreensível ogeriza judaica por tudo que se assemelhe, por mais de longe que seja, à Inquisição do passado.

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Parashá Haazinu e Yom Kipur

Messiânico

Deuteronômio 32:6
É assim que recompensas ao ETERNO, povo louco e ignorante? Não é ele teu pai, que te adquiriu, te fez e te estabeleceu?
39 Vede, agora, que Eu Sou, Eu somente, e mais nenhum deus além de mim; eu mato e eu faço viver; eu firo e eu saro; e não há quem possa livrar alguém da minha mão.

Essa parashá fala mais do que todas as outras no poder que o Eterno tem sobre nossas vidas e sobre nossa teimosia em não reconhecermos esse poder, em não sermos gratos e em não nos dedicarmos e submetermos a Ele. O conceito de Deus como pai não é, como muitos pensam, um conceito cristão estabelecido por Yeshua HaMashiach, mas um conceito profundamente fundamentado na Torah.

Não é ele teu pai, eu te adquiriu, te fez e te estabeleceu?

Por que essas palavras, e nessa ordem, adquirir, fazer e estabelecer?
A palavra adquirir aqui tem o mesmo sentido de comprar, regatar por preço.
A palavra estabelecer significa proporcionar estabilidade a; tornar estável ou firme; dar existência a; fundar; instituir; determinar; estipular;organizar; fixar;
Mas não bastaria ter feito e estabelecido para se tornar dono? Por que seria necessário, além de fazer e estabelecer, também comprar?
O homem, depois de criado por Deus, decidiu seguir um caminho diferente. Por causa desse caminho em que ele se opunha, se afastava da Luz, em que limitava a luz do Eterno em sua existência, se tornou escravo da ausência da Luz que ele mesmo provocou, se transformou em escravo de seu próprio ego, escravo de HaSatan. E com escravo, para que novamente se tornasse filho, era preciso ser resgatado, ser comprado. Resgatado de que? Resgatado do desejo compulsivo de seguir seus próprios caminhos, de limitar o que receberia do Eterno, de tomar suas próprias decisões, de romper com Ele, e, principalmente, da culpa dos erros naturalmente decorrentes dessa posição e dessa decisão – tikun.
Tanto no Tanach como no Berit HaDashá encontramos várias vezes a palavra resgatado,comprado, adquirido:
Isaías 51:11
Assim voltarão os resgatados do SENHOR, e virão a Sião com júbilo, e perpétua alegria haverá sobre as suas cabeças; gozo e alegria alcançarão, a tristeza e o gemido fugirão.
Isaías 52:3
Porque assim diz o SENHOR: Por nada fostes vendidos; também sem dinheiro sereis resgatados.
I Coríntios 6:20
Porque fostes comprados por bom preço; glorificai, pois, a Deus no vosso corpo, e no vosso espírito, os quais pertencem a Deus.
I Corintios 7:2,3
Fostes comprados por bom preço; não vos façais servos dos homens.
Apocalipse 14:3
...cantavam um como cântico novo diante do trono, e diante dos quatro animais e dos anciãos; e ninguém podia aprender aquele cântico, senão os cento e quarenta e quatro mil que foram comprados da terra.
I Pedro 3:18, 19,20
Sabendo que não foi com coisas corruptíveis, como prata ou ouro, que fostes resgatados da vossa vã maneira de viver ... Mas com o precioso sangue de Yeshua, como de um cordeiro imaculado e incontaminado,
o qual, na verdade, em outro tempo foi conhecido, ainda antes da fundação do mundo, mas manifestado nestes últimos tempos por amor de vós;

De nada adianta fazer alguém, criar alguém e estabelecer alguém para que esse alguém continue a viver uma vida de escravidão, de ruptura, uma vida de separação, limitação e infelicidade.

Essa parashá é uma parashá profética, que fala sobre as constantes idas e vindas do povo de Israel e, em nível mais profundo, de cada um de nós, de nossas constantes quedas e recuperação. E também fala de compra, resgate, aquisição. Fala sobre o que aconteceria no futuro ao povo de Israel.

Mas que aquisição é essa, de que nos fala a Torá? Que resgate é esse, pago pelo Criador por algo que Ele mesmo fez, e que deveria naturalmente ser seu?

O resgate do Tikun, Tikun este que implica em separação em desamonia com o que é perfeito, e é explicado no Berit HaDashá:

Sabendo que não foi com coisas corruptíveis, como prata ou ouro, que fostes resgatados da vossa vã maneira de viver ...
Mas com o precioso sangue de Yeshua, como de um cordeiro imaculado e incontaminado,
O qual, na verdade, em outro tempo foi conhecido, ainda antes da fundação do mundo, mas manifestado nestes últimos tempos por amor de vós;


Então, que preço é esse, que não é dinheiro, como bem diz o Tanach, em Isaías?

Preço de expiação. Preço de sangue.

O Talmud afirma:

Não há Yom Kipur sem sangue. (Yomá 5a)

Toda a Torá aponta para essa forma de resgate: o resgate dos primogênitos, ocorrido em Pesach, em que o sangue de um cordeiro perfeito era passado nas portas, impedindo a morte dos primeiros filhos hebreus. As constantes ofertas pelo pecado, que envolviam derramamento de sangue de diversos animais. A expiação máxima da culpa, ocorrida em Yom Kipur, em que um bode era degolado e seu sangue aspergido sobre o povo, liberando-o de toda culpa e outro enviado ao deserto, para morrer.

O Talmud nos conta que:"Durante os quarenta anos antes da destruição do Segundo Templo, a sorte* escrita ‘Para o Senhor’ não vinha mais não mão direita do Cohen Gadol (Sumo Sacedote), nem o fio vermelho** ficava branco, nem a lâmpada ocidental a Menorá do Templo permanecia acesa e as portas do Santuário abriam por sí só" (Yomá 39b). *A sorte para o Senhor é uma referência ao texto de Lv 16.6-9. Ao bode que seria para expiação do povo. Havia um sorteio e por um sinal de D'us saía 'Goral LaHaShem' mas, neste período isto não acontecia mais. Sinal que D'us não estava mais recebendo as ofertas pelo pecado, pois o Mashiach Yeshua se ofereceu como perfeito sacrifício pelo pecado. Exatamente neste período de 40 anos antes da destruição do Templo, aproximadamente o ano 30 d.C. ** O fio vermelho era o fio de escarlate que perdia sua cor (ficando branco) como sinal de aceitação de D'us à oferta de Israel. Este fenômeno também não acontecia mais. "Eis que o véu do santuário se rasgou em duas partes de alto a baixo..." (Mt 27.51). “Há um interessante comentário feito por Ibn Ezra, um comentarista bíblico judeu medieval, a respeito de Levítico 16.9-10. Ibn Ezra fixa seu comentário em Levítico 16.9: “Se você deseja conhecer o mistério do bode expiatório deve conhecer primeiro quem morreu na idade de 33 (trinta e três)...”. Não foi ele quem elaborou este ponto. Um comentarista posterior, um dos mais famosos Rabinos Judeus da era de ouro, do exílio espanhol, rabino Moshê Ben-Nachman, afirma neste verso: “Eu digo que o Rabino Abraham Ibn Ezra quis dizer, “a idade de 33...”: Esaú e o Reino de Edom”. Na terminologia judaica medieval, Esaú é Yeshua, e o Reino de Edom é o Império Romano. Assim, o Rabino Moshê identifica a pessoa de quem o Rabino Ibn Ezra estava falando como sendo Yeshua. Yeshua é o bode expiatório que leva os pecados de Israel sobre si no dia da expiação. É interessante ver rabinos que identificam o bode expiatório como Yeshua e ainda não acreditam n’Ele. A razão pela qual esses rabinos são capazes disso é porque eles viviam sobre a impressão errada que cristianismo é para gentios e não para Judeus”.

O que significa tudo isso?
Porque o sacrifício tradicional de Yom Kipur, exatamente a partir da morte de Yeshua, segundo a própria interpretação dos eruditos judaicos da época, que não aceitavam o rabino Yeshua como messias de Israel, não foi mais aceito pelo Eterno? Por que a forma tradicional de expiação deixou de valer, se não havia Yom Kippur sem sangue?
O que significava o fato de as portas do templo se abrirem sozinhas?
Por que o Talmud, obra essencialmente judaica, afirma que não há Kipur, expiação, perdão, sem sangue? E por que o povo de Israel foi privado (e o Eterno permitiu, essa parashá mesmo diz que toda derrota foi com a permissão do Eterno) da expiação com sangue de animais, já que todo sacrifício deveria ser feito apenas no templo, segundo o Tanach? E por que os escritos messiânicos nos dão resposta para isso, afirmando que Yeshua, segundo eles o messias de Israel, morrendo na cruz, em Jerusalém, cidade do Templo, tinha provido ele mesmo o sacrifício perfeito, cumprindo com tudo aquilo para o qual o arquétipo do sangue animal apontava e preparava a alma de um povo?
Segundo ele mesmo, Yeshua, em sua pré-existência, é um ser divino, que se identificava como aquele de Daniel 7: 13: Eu estava olhando nas minhas visões da noite, e eis que vinha nas nuvens do céu um como o filho do homem; e dirigiu-se ao ancião de dias, e o fizeram chegar até ele. E foi-lhe dado o domínio, e a honra, e o reino, para que todos os povos, nações e línguas o servissem; o seu domínio é um domínio eterno, que não passará, e o seu reino tal, que não será destruído)

E por que a parashá Haazinu, parashá profética, fala de comprar, expiar, resgatar, além de fazer e estabelecer?

Fiquemos com estas perguntas e tenhamos em mente que o Eterno, a seu tempo, faz tudo completo. Que Ele mesmo já proveu, em Malchut, no mundo material, meio para que toda separação, toda ruptura causada pelo pão da vergonha seja anulada. Para que todo tikun seja expiado, apagado, coberto como foram as portas das casas imbuídas do sangue do cordeiro pascal. Como foram as almas do povo aspergido com o sangue do bode de Yom Kippur. Que possamos entender que tudo que precisamos fazer é receber essa dádiva de expiação e nos apegarmos a ela. Que nós possamos entender esse mistério e não menosprezá-lo, para que possamos continuar em nossa caminhada de devekut, de adesão ao Eterno, e para se que cumpram em nós as palavras do Salmo 91: porque a mim se apegou com amor,também eu o livrarei; pô-lo-ei num alto retiro, porque conheceu o meu nome.Ele me invocará, e eu lhe responderei; {estarei} com ele na angústia; livrá-lo-ei e o glorificarei. Dar-lhe-ei abundância de dias, e lhe mostrarei a minha salvação.

O que mais podemos desejar?

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Conviver é preciso e é bom

“Maimônides, o grande rabino, em seu comentário sobre a mishná, no décimo capitulo do tratdo “Sanhedrin”, faz uma exposição da tradição e da doutrina do judaísmo. Redigida para proporcionar uma resposta às dificuldades e às necessidades do povo judeu e com o intuito de preservar a unidade de seu povo, essa introdução levou Maimônides a sacrificar seus princípios liberais e a propor um quadro quase dogmático que representa, sob seu próprio ponto de vista, o verdadeiro credo do judaísmo, que pode ser resumido da seguinte forma:
1. Eu acredito plenamente que o Criador, que Seu nome seja bendito, é o Criador e Guia de todos os seres, que Ele e apenas Ele, criou, cria e criará todas as coisas.
2. Eu acredito plenamente que o Criador, que Seu nome seja bendito, é Um e único, e que não existe nada mais único do que Ele; que apenas Ele é nosso Deus, era, é e será.
3. Eu acredito plenamente que o Criador, que Seu nome seja bendito, é etéreo; ele não tem nenhuma propriedade antropomórfica, que nada é parecido com Ele.
4. Eu acredito plenamente que o Criador, que Seu nome seja bendito, é primeiro e último
5. Eu acredito plenamente que o Criador, que Seu nome seja bendito, é o único a quem é apropriado rezarmos e que não é apropriado rezar a mais ninguém.
6. Eu acredito plenamente que todas as palavras dos profetas são verdadeiras.
7. Eu acredito plenamente que a profecia de Moisés, nosso mestre, que esteja em paz, foi verdadeira, que foi ele o pai de todos os profetas, daqueles que o precederam como daqueles que o seguiram (no sentido de ter sido o maior deles).
8. Eu acredito plenamente que a totalidade da Torah está em nossas mãos e foi dada a Moisés, nosso mestre, que descanse em paz.
9. Eu acredito plenamente que essa Torah não será modificada e que não haverá outra Torá dada pelo Criador, bendito seja seu nome.
10. Eu acredito plenamente que o Criador, bendito seja Seu nome, conhece todas as ações e todos os pensamentos de todos os seres humanos, como está escrito: “É ele que amolda o coração de todos, Ele capta todas as suas ações” (Salmos 33:15)
11. Eu acredito plenamente que o Criador, bendito seja Seu nome, recompensa aqueles que observam Seus mandamentos, e pune aqueles que os transgridem.
12. Eu acredito plenamente na vinda do Messias, ainda que possa tardar, no entanto espero a cada dia pela sua vinda.
13. Eu acredito plenamente que haverá ressurreição dos mortos, no momento em que assim desejar nosso Criador, bendito seja seu nome, exaltada seja a Sua recordação para todo o sempre.

Incorporados depois à liturgia de várias populações judias, esses princípios foram recebidos com grande alegria pelas comunidades carentes, transformando-se em hinos de glorificação a Deus, cujo mais famoso é o Yigdal, de autor desconhecido, que é cantado até hoje nas sinagogas.”
Do livro Maimônides, os 613 mandamentos, tradução e biografia de Giuseppe Nahaïssi


Lendo esse maravilhoso livro, me veio a vontade de falar sobre o que me tem envolvido e me vocacionado há bastante tempo – a convivência entre todos os tipos de judeus, até mesmo os judeus messiânicos e não messiânicos.

Nosso povo vem sofrendo inúmeros e abertos ataques, gerados pelo antissemitismo crescente no mundo. Presidentes e imprensa têm minimizado genocídios no passado e terrorismo no presente, numa cegueira e parcialidade total em relação a acontecimentos e interpretações de fatos históricos.
Mais do que nunca, nosso povo precisa crescer e se unir. No entanto, o judaísmo tradicional, e principalmente o ortodoxo, vem rejeitando violentamente uma vertente que chamam de apóstata e cuja judaicidade se recusa a admitir, que vem crescendo assustadoramente nas últimas duas décadas e que já se tornou um segmento representativo do judaísmo – o judaísmo messiânico. Prova disso, o governo de Israel já aceita messiânicos em Aliah, o mercado messiânico já se tornou o maior consumidor de produtos e livros judaicos, há mais de 300 mil judeus messiânicos de origem judaica comprovada nos Estados Unidos, e o número de suas sinagogas está a pouco de se equiparar ao das sinagogas tradicionais.
Nessa versão do judaísmo, os adeptos acreditam que Jesus de Nazaré, por eles denominado Yeshua, é o messias prometido de Israel, pelo qual as outras vertentes do judaísmo ainda esperam. Os judeus messiânicos aceitam ainda o B’rit Hadashah, o novo testamento encontrado nas bíblias católicas e protestantes, em sua versão judaica, que contém quatro versões da vida e morte de Jesus, os atos dos primeiros tempos da seita dos nazarenos por ele criada e cartas de alguns personagens importantes dessa fé.
Em todo o resto as crenças são as mesmas.
Lendo o Yigdal, me dei conta da total e absoluta falta de sensatez desse cisma e rejeição. O famoso credo judaico seria idêntico ao messiânico, se apenas uma palavra fosse trocada: A palavra vinda pela palavra volta do Messias.

Impressionante como uma simples e única palavra pode fazer com que pessoas de um mesmo povo possam ser separadas por um abismo aparentemente intransponível. Impressionante como um lado, cativo em sua inflexibilidade, pode rejeitar e afastar radicalmente o outro que o fortaleceria, e como o outro lado, tomado pela fúria proselitista, pode deixar de enxergar e amar, pode perseguir e agredir aquele que se recusa a acreditar no que acreditam ser verdade.

Apenas uma palavra.

Incrivelmente interessante e triste, como a diferença de apenas uma palavra em um Credo pode criar esse abismo aparentemente intransponível. Digo aparentemente, porque aqui em Cabo Frio temos vivenciado algo diferente em nossa pequena kehilah, algo de que nunca ouvi em todo o Brasil ou mesmo no exterior. Tenho conta disso apenas nos relatos dos primórdios da seita dos nazarenos freqüentadores das sinagogas tradicionais, que, mais tarde, deu origem ao cristianismo de Constantino, que quase nada tem em comum com o do primeiro século da Era Comum.

Em uma cidade com poucos judeus e quase todos não praticantes ou de prática esporádica, judeus ortodoxos, reformistas, cabalistas e messiânicos se reúnem em harmonia em um só lugar, com uma condição – o direito de acreditarem e o direito de não acreditarem na messiandade de Jesus de Nazaré, sem que nenhum grupo tente impor ao outro sua crença nesse aspecto específico.

Os serviços e festas são celebrados ao modo judaico, a mesma chalá é comida, o mesmo vinho é bebido e as mesmas bênçãos são recitadas no kabalat shabat; o siddur tradicional é usado e os comentários da parashá são feitos em várias versões. Quem não quiser ouvir a versão do outro, tem toda a liberdade para se ausentar e só voltar no final. Sem traumas. Sem condenações. Sem preconceitos. Quem quer acreditar, que continue acreditando. E quem não quer acreditar, que continue não acreditando.

Com certeza, as críticas virão. Haverá quem se aproxime para avisar os dois lados do perigo da convivência. Dos preconceitos contra os messiânicos dentro da comunidade judaica. Da rigidez e teimosia dos não messiânicos. Mas toda interação só provoca mudanças quando não se tem convicção daquilo em que se crê.

No entanto, convivência e intercâmbio se criam. O diálogo e o amor se formam. Florescem facilmente, quando se permite. E um descobre que o outro, apesar de crer diferente, não é um bicho de sete cabeças nem oferece perigo àquele que tem convicções firmes e enraizadas. Um descobre que o outro é gente, que o outro também é judeu, que o outro também ama as mesmas coisas e crê nas mesmas coisas, e que apenas uma palavrinha em todo o credo é diferente. Descobre-se que se é um só, mesmo que o messias seja diferente. Descobre-se que o Deus é o mesmo e que é isso que importa. Para os messiânicos dessa kehilá, em número equivalente aos tradicionais, o importante não é impor a messiandade de Yeshua, mas aprender e ensinar que a convivência em amizade e harmonia é mais importante. E que ninguém precisa mudar apenas porque o outro é diferente.

Quiçá isso possa se espalhar pelo Brasil e pelo mundo, e possamos entender que apenas detalhes não podem fazer com que um povo que precisa de força e crescimento se divida em dois.

Cabala

Cabala não é adivinhação.
Cabala não é numerologia.
Cabala não é esoterismo.
Cabala não é astrologia.
Cabala não é magia.
Cabala não é do diabo.
Não se faz cabala.
Estuda-se cabala.
Vive-se cabala.
E, estudando-se cabala, vivendo cabala, assimilando a cabala como o corpo assimila e comida, aprende-se a entender. Aprende-se a ouvir Deus. Aprende-se a se apegar a Deus. Aprende-se a receber. Aprende-se que o receber de Deus, sem limites, o abrir mão do pão da vergonha por amor ao Emanador é o que nos faz voltar para casa.

Rosh HaShana

Acabou um ano, começou o outro, e com esse recomeço os dez dias temíveis. Começar temendo, começar revendo, começar analisando e tirando as cascas que nos impedem de ver o que deveríamos ver. Esse é o verdadeiro começo. Mas, como a sucessão de parashiot e de anos nos mostram, tudo se encadeia, e os iamin noraim existem para nos lembrar que nesse encadear constante precisamos respirar. Precisamos olhar para o alto, precisamos olhar para dentro de nós mesmos e nos afinar com o Alto e Sublime, que habita no santo lugar. Começar com dias temíveis, para nos lembrar que, antes de qualquer começo, é preciso olhar para dentro, criar e fixar uma base segura para todo empreendimento, que vem do nosso acerto e apego com a Luz. Que esses dias não sejam excessão no ano, mas apenas uma lembrança de um aprofundamento maior.