sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Parashá Vayigash

Parashah Vayigash

Bereshit / Gênesis 44:18-47:27

Resumo da Parashah:

No capítulo 45 de Bereshit, Judá fala a José oferecendo-se para se colocar no lugar de Benjamin, que o segundo quer reter no Egito. Então José não consegue se conter e se faz conhecer como o irmão perdido há tantos anos. Perdoa os irmãos e não lhes impõe culpa, ao contrário, diz que tudo foi um plano de D’us para a salvação de todos.

Ele chama toda sua família para morar no Egito, amparado e estimulado pelo Faraó. Envia os irmãos ao pai cheios de presentes e estes anunciam a ele o fato de José estar vivo. Jacob não acredita de início, mas vendo os carros mandados por José, termina acreditando.

No capitulo 46 de Bereshit, Deus fala a Jacob e o envia à terra do Egito, dizendo que irá com ele, e que lá Ele fará de seu povo uma grande nação. Todos partem para o Egito. Segue a enumeração das famílias dos filhos de Jacob que foram para o Egito, sessenta e seis pessoas, setenta se contando o próprio Jacob, José e seus dois filhos.

No capítulo 47, a família ocupa a terra de Goshen e Jacob abençoa a Faraó.
A fome continua na terra, e, tendo recolhido toda prata do povo em troco de comida, agora José recebe gado e terra, e, apesar de os egípcios se oferecem como escravos, José não aceita. Ele coloca o povo para semear sobre toda a terra agora pertencente Faraó (com a exceção da terra dos sacerdotes) devendo devolver-lhe o quinto da colheita.

Comentário:

No início da Parashá, em Bereshit 44:33 está escrito:
Agora fique, rogo, teu servo em lugar do moço, como escravo de meu senhor, e o moço suba com seus irmãos.
Judá, em sua fala, tipifica Yeshua. Ele se oferece para se colocar no lugar de Benjamin, assim como Y’shua se colocou em nosso lugar.

No capítulo 45 verso 5, lemos:
E agora, não vos entristeçais e não vos irriteis por me haverdes vendido para cá, porque para preservar vossa vida me mandou Deus adiante de vos, para vos dar uma descendência sobre a terra e fazer-vos viver uma grande salvação.

O sentido original de grande salvação, em hebraico, lifleitah gedolah, é: por meios extraordinários dar grande livramento, manter vivo, dar uma grande sobrevivência, assegurar-se de que muitos sobrevivam.

Nessa passagem, José é o tipo de Y’shua; aquele que Hashem usou, enviando para a terra do Egito (a Terra), onde viveu e sofreu injustiças, foi encontrado sem mácula, como José, apesar das acusações de muitos, foi preso, torturado, e depois exaltado por Hashem, para nos dar grande livramento, para assegurar-se que muitos sobrevivam.

Essa passagem nos fala da postura que devemos ter em relação à morte de Y’shua; muitos acusam o b’nei Yisrael de terem matado Y’shua. A resposta, no entanto, é essa: assim como para preservar a vida Hashem mandou José adiante deles, assim também Y’shua foi morto e sacrificado, para fazer o mundo viver uma grande salvação, concentrando nele todo tikun do mundo e assim possibilitando uma volta ao Pai a todo aquele que assim o desejar, crendo nesse livramento. Era necessário que fosse assim, como ele mesmo afirmou antes que fosse preso e crucificado.

Assim como José, que se acreditava morto, Y´shua ressurge da morte transformado, com novas vestimentas e novo poder, tendo passado pelo sacrifício, e abraça seus irmãos, convidando-os a entrar em um reino de regozijo e saciedade.

Em Bereshit 45:10
José manda um recado dizendo a seu pai que eles habitarão na terra de Goshen. Goshen era uma área no Delta do Nilo a oeste do canal de Suez, ao mesmo tempo perto da capital, onde estava José, e de Canaan. O grande historiador Flavius Josephus identificou a área como a região de Heliópolis, no Cairo, que era considerada a área mais fértil do país.

Quando Hashem chama e envia, ele dá o melhor. José e o Faraó não se contentaram em dar qualquer região do país ao povo de Yisrael, mas a mais fértil e a melhor situada.

No capítulo 45 versículo 24, José diz a seus irmãos, quando se despede deles:
Não tenhais desavenças no caminho.
Vayeshalach et- echan vayelechu vayomer alehem altingezu ladarech

Essa frase foi interpretada de várias maneiras por vários sábios e eruditos judeus:
Não tenhais agitação (Radak)
Não tenhais raiva
Não tenhais desconforto, medo ( Bekor Shor)
Preocupação, (Rahban)
Brigas (Rashi)
Não fiqueis envolvidos com outras coisas pelo caminho

O caminho dos filhos de Yisrael até Canaã para buscarem suas famílias e as trazerem até José e a salvação tipifica o caminho de todos nós até Y’shua e a salvação oferecida através dele por Hashem. Durante essa viagem, vários conselhos nos são dados nas Escrituras e pelo próprio Y’shua, assim como por José a seus irmãos.
Não se agitar (aquietai-vos e sabei que eu sou D’us)
Não ter raiva (Irai-vos, e não pequeis)
Não ter medo (Não temais)
Não ter preocupação (não vos inquieteis pelo que havereis de comer e beber...)
Não ter brigas ( Amai-vos uns aos outros)
finalmente, o não ficar envolvidos pelo caminho nos faz lembrar da parábola do semeador.



Em Bereshit 46: 3
E disse (O Eterno) Eu sou D’us, D’us de teu pai; não temas descer ao Egito, porque lá eu farei de ti uma grande nação. E descerei contigo ao Egito, e Eu te farei subir também, e José porá a mão sobre teus olhos.

Deus falava com Jacó, falou com ele várias vezes em sua vida, e, no entanto, durante todos os anos em que José esteve desaparecido, D’us não lhe disse que seu filho estava vivo, mas deixou-o imerso em sua dor, acreditando na perda do filho querido de Raquel.

Há momentos em que D’us fala e outros em que Ele se cala. Podemos pensar que, se D’us tivesse falado, seu plano de salvação para o povo de Yisrael através de José não teria se realizado. Seu pai teria ido atrás dele, talvez, e ele não teria se tornado o salvador de sua família; se pensarmos que, mais tarde, foi através do acontecido a José que D’us separou o povo de Yisrael e criou sua identidade como povo durante seus 400 anos no Egito, vemos a importância e a utilidade do silêncio de Hashem.

No entanto, mesmo sem falar a Jacob que seu filho estava vivo, o Eterno cuidou dele e concretizou seu plano em sua vida, mantendo-o fiel e íntegro. Muitas vezes temos a tendência de nos preocupar em relação a nossos filhos, a nossas circunstâncias. Queremos saber de tudo, queremos controlar tudo e não nos contentamos com o silêncio de D’us. Que possamos nos lembrar de que Hashem não precisa de nós para cumprir com sua vontade nem para cuidar do modo perfeito dos nossos. Precisamos nos lembrar ainda que os caminhos de Hashem não são os nossos, e que, muitas vezes o que consideramos uma tragédia por não sabermos ou pelo Eterno estar silencioso, lá na frente se revelará como bênção salvadora.

Em 46:4,
Eu descerei contigo ao Egito, e Eu te farei subir também, e José porá a mão sobre os teus olhos.
Quando Hashem diz a Jacob Eu descerei contigo, Ele fala da sua shechinah.

Quando Ele nos envia, seja aonde for, podemos ter certeza de que sua shechinah vai conosco, assim como foi com Jacob para a terra do Egito e como voltou de lá para Canaã, cumprindo com sua promessa a Jacob 400 anos depois, guiando os B’nei Yisrael pelo deserto durante 40 anos de volta à Terra Prometida.

Em 46:5, vemos:

Esse versículo nos remete a outro, em Provérbios 24:16:
Sete vezes cai o justo, e se torna a levantar. Prov 24:16

Segundo a tradição judaica, as sete quedas, as sete angústias de Jacob foram:
Esaú, Labão, o Anjo, Diná, José, Simão e Benjamim.
O Midrash diz, em Tehilim 16:

Se desejas a vida, suporta os sofrimentos.

Hashem não promete que o justo não cairá, mas que ele se levantará após sua queda, pois, como a própria vida de José mostra, os sofrimentos servem para nos aprimorar e nos aproximar de Hashem e de sua missão para nós.
É interessante notar a mudança de postura de Jacob: da incredulidade total, até levantar-se e deixar-se levar por seus filhos, assim que Hashem fala com ele. Que nós possamos nos lembrar de que, como justos, justificados diante do Eterno pela expiação de Y’shua, podemos nos levantar segundo a sua palavra e caminhar em direção à nossa Terra Prometida.

No capítulo 46, versículo 29:

E aprontou José seu carro, e subiu ao encontro de Yisrael, seu pai, em Goshen, e, tendo-se-lhe apresentado, atirou-se sobre o seu pescoço, e chorou muito sobre seu pescoço.

José, com figura de Y’shua, nessa passagem nos remete à parábola do filho pródigo:
Em Lucas 15: 20, lemos:

E, levantando-se, foi para seu pai. Vinha ele ainda longe, quando seu pai o avistou, e, compadecido dele, correndo, o abraçou e beijou.

Como José, na parábola, o Pai é Hashem, que tem uma postura ativa ao receber aquele que está longe. O Eterno não se contenta em ficar no seu lugar e esperar que façamos todo o caminho até ele, mas se levanta e vem ao nosso encontro, nos abraçando e beijando, para que saibamos que somos realmente amados. Foi isso que o Eterno fez enviando Y’shua ao mundo. Caminhou até nós, abraçou-nos e nos beijou, mostrando-nos a sua salvação. Como o filho pródigo voltou a viver na casa do pai onde reinava a abundância, a família de Yosef, faminta e empobrecida, entrou na abundância do Egito.

No capítulo 46:28
Vemos novamente Judá tipificando Y’shua:

E a Judá mandou adiante dele, para José, para preparar-lhes lugar em Goshen; e foram à terra de Goshen.

Assim com Judá, Y’shua foi adiante de nós para nos preparar lugar, como ele mesmo mencionou, na melhor das terras. E nós iremos à terra que ele preparou.

No capítulo 47: 7:

E trouxe José a Jacob seu pai, e pô-lo diante do Faraó. E abençoou Jacob ao Faraó.

Aqui vemos o patriarca de Yisrael abençoando o próprio Faraó e pensamos em todo o caminho que ele percorreu, lutando com homens, lutando com o anjo, perdendo entes queridos, recuperando a esperança. Aquele que recebe a autoridade de Hashem, aquele que é ungido do Eterno, não importa onde esteja, a ele se submetem os que reconhecem o poder do Eterno. Nesse caso, é Jacob, que está sendo materialmente abençoado pelo Faraó e que o abençoa espiritualmente. Dizem alguns eruditos que é por causa dessa benção que a Torah cita que a fome, em vez dos cinco anos restantes, durou apenas dois anos.

A Parashah termina no verso 27 de Bereshit 47, dizendo:

E esteve Yisrael na terra do Egito, na terra de Goshen; e adquiriram possessões, e frutificaram, e multiplicaram-se muito.

Que nós possamos também, como os b’nei Yisrael, adquirir possessões onde a ferrugem não corrói e a traça não come, frutificar a cem por um e multiplicar em muito o número dos que crêem para que possamos entrar, como os filhos de Jacob, na terra de abundância e descanso.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Parashá Miketz

Perdão
José passa 22 anos longe da família, vendido pelos irmãos a mercadores, escravo e preso no Egito, tornando-se mais tarde o segundo homem em autoridade naquele país. 22 anos é muito tempo para remoer uma injustiça. 22 anos é tempo para pensar com detalhes no que fará quando os sonhos, nos quais irmãos se curvam diante dele, se realizarem. Para pensar em que atitude tomará quando os irmãos vierem e se curvarem.
Em 22 anos, o irmão vendido se torna o sub-chefe do Egito. Em 22 anos, ele se transforma no salvador, não só daquele país, mas de toda a população do entorno. A ele vêm aqueles que não se preveniram, aqueles que não tiveram a graça divina de receberem a revelação do que viria e de como se preparar. Em 22 anos, o escravo se transforma em mestre, o rejeitado em adulado por todos. 22 anos é muito tempo para tecer conjecturas sobre o que aconteceu. Sobre a vida do pai, dos irmãos. Sobre o momento da vingança. E o que vemos no centro nessa parashá é a luta interior de um homem. A intensa guerra entre ressentimento e perdão, entre vingança e generosidade. A parashá termina nos deixando em suspense quanto à decisão final de Yossef: perdão ou vingança? Generosidade ou rancor?
A parashá Mikêts fala do processo pelo qual um homem passa até se tornar capaz de perdoar, ou melhor, até que o perdão exploda dentro dele de modo incontrolável. É com muito choro e emoção que veremos na próxima parashá a reconciliação de Yossef e seus irmãos.
O processo ao qual ele os submete, a seus algozes do passado, é longo e doloroso para ambas as partes, cheio de estratagemas, mentiras e subterfúgios. O objetivo? Segundo o Midrash, descobrir se eles tinham realmente se arrependido do que fizeram no passado ou se continuavam a pensar e a agir da mesma maneira. Ou talvez submetê-los a um processo em que fossem levados ao arrependimento pelo que fizeram.
O importante é que tudo isso culmina com um perdão irrestrito e total.
Isso me faz lembrar o que Yeshua falou sobre perdão, em Mateus 18: 22:
¶ Então Pedro, aproximando-se dele, disse: Senhor, até quantas vezes pecará meu irmão contra mim, e eu lhe perdoarei? Até sete?
22 Yeshua lhe disse: Não te digo que até sete; mas, até setenta vezes sete.
23 Por isso o reino dos céus pode comparar-se a um certo rei que quis fazer contas com os seus servos;
24 E, começando a fazer contas, foi-lhe apresentado um que lhe devia dez mil talentos;
25 E, não tendo ele com que pagar, o seu senhor mandou que ele, e sua mulher e seus filhos fossem vendidos, com tudo quanto tinha, para que a dívida se lhe pagasse.
26 Então aquele servo, prostrando-se, o reverenciava, dizendo: Senhor, sê generoso para comigo, e tudo te pagarei.
27 Então o senhor daquele servo, movido de íntima compaixão, soltou-o e perdoou-lhe a dívida.
28 Saindo, porém, aquele servo, encontrou um dos seus conservos, que lhe devia cem dinheiros, e, lançando mão dele, sufocava-o, dizendo: Paga-me o que me deves.
29 Então o seu companheiro, prostrando-se a seus pés, rogava-lhe, dizendo: Sê generoso para comigo, e tudo te pagarei.
30 Ele, porém, não quis, antes foi encerrá-lo na prisão, até que pagasse a dívida.
31 Vendo, pois, os seus conservos o que acontecia, contristaram-se muito, e foram declarar ao seu senhor tudo o que se passara.
32 Então o seu senhor, chamando-o à sua presença, disse-lhe: Servo malvado, perdoei-te toda aquela dívida, porque me suplicaste.
33 Não devias tu, igualmente, ter compaixão do teu companheiro, como eu também tive misericórdia de ti?
34 E, indignado, o seu senhor o entregou aos atormentadores, até que pagasse tudo o que devia.
35 Assim vos fará, também, meu Pai celestial, se do coração não perdoardes, cada um a seu irmão, as suas ofensas.

A capacidade de perdoar vem da compreensão de que nós, e ninguém mais, somos responsáveis por tudo que nos acontece, de que nada é para mal e de que já somos objeto de graça e perdão tão grandes que não temos o direito de negá-lo a ninguém. Essa parábola mostra claramente que qualquer dívida que acharmos que nosso próximo possa vir a ter conosco não é nada comparado à nossa dívida para com o Eterno. Pois quem pode dizer que passa um dia sem errar, sem ceder ao Ietzer Hará? Quem passa um dia sem omissão, lashon hará, ira, covardia, medo, descrença, preguiça, procrastinação? Quem faz todos os dias, todos os mommentos, o melhor que pode? A capacidade de perdoar vem exatamente do que a parábola fala: da consciência de nossas próprias falhas. É através delas, olhando para dentro de nós mesmos, que entenderemos que nosso próximo é apenas um instrumento para nosso crescimento e que, perdoando-o, seremos perdoados na mesma medida. O próprio Yeshua intercede para que perdoados sejam aqueles que o crucificam na hora de maior dor: "Pai, perdoa-lhes porque não sabem o que fazem". Ele mesmo nos afirma que seremos julgados com a mesma medida que julgarmos nossos irmãos.
Em geral, temos pouca consciência sobre a importância do perdão. Não perdoando, não seremos perdoados, e não sendo perdoados, haverá separação entre nós e Deus. De modo que o principal beneficiado pelo perdão somos nós mesmos, e não aquele que é perdoado.

Yossef, o justo, faz na prática prova disso, quando entende que o perdão oferecido a seus irmãos permitiria a reunião da família, a vinda de seu pai ao Egito, a liberação de 22 anos de mágoa e de solidão. Ele tem consciência de que não foram na realidade seus irmãos que o venderam, mas o Eterno que o permitiu, em um plano maior para que toda aquela região fosse salva da fome, como ele mesmo afirma na parashá seguinte.
Primeiro, que nós tenhamos consciência de nossa dívida e do fato de que ela é sempre maior para com o Eterno do que qualquer dívida que qualquer pessoa possa ter para conosco, por maior que seja. Segundo, que nós tenhamos consciência de que, perdoando, estaremos primeiro livrando a abençoando a nós mesmos, para depois abençoarmos e liberarmos nosso próximo. E terceiro: se for difícil perdoar, que possamos pedir ajuda ao Eterno, principal interessado em que perdoemos, concientizando-nos de que todos nós, na realidade, um dia fomos um só com Ele e que um dia voltaremos a conviver sem essa ilusão de separação e antagonismo.

sábado, 21 de novembro de 2009

Parashá Toledot

Lucas 12:22
22E disse Yeshua aos seus discípulos: Portanto vos digo: Não estejais apreensivos pela vossa vida, sobre o que comereis, nem pelo corpo, sobre o que vestireis.
23 A vida é mais do que o sustento, e o corpo mais do que as vestes.
24 Considerai os corvos, que nem semeiam, nem segam, nem têm despensa nem celeiro, e Deus os alimenta; quanto mais valeis vós do que as aves?
25 E qual de vós, sendo solícito, pode acrescentar um côvado à sua estatura?
26 Pois, se nem ainda podeis as coisas mínimas, por que estais ansiosos pelas outras?
27 Considerai os lírios, como eles crescem; não trabalham, nem fiam; e digo-vos que nem ainda Salomão, em toda a sua glória, se vestiu como um deles.
28 E, se Deus assim veste a erva que hoje está no campo e amanhã é lançada no forno, quanto mais a vós, homens de pouca fé?
29 Não pergunteis, pois, que haveis de comer, ou que haveis de beber, e não andeis inquietos.
30 Porque as nações do mundo buscam todas essas coisas; mas vosso Pai sabe que precisais delas.
Buscai antes o reino de Deus, e todas estas coisas vos serão acrescentadas.

Essa passagem se relaciona de modo direto à Parashá de hoje, que nos conta de dois irmãos cujas prioridades eram diferentes. Esaú, homem caçador, prático, violento, sanguíneo, troca seu direito de primogenitura por um prato de lentilhas com carne preparado por seu irmão Jacó.
Dentro de nós há um Esaú e um Jacó constantemente brigando. Nosso Esaú, totalmente ligado ao 1% do mundo material, se esquece de que é no mundo espiritual que as verdadeiras batalhas e vitórias acontecem. Extremamente confiante de si mesmo e de sua força, confiante naquilo que acha que é seu por direito de nascença, por direito adquirido quando de sua entrada no mundo material, não se esforça para mover as coisas no âmbito do espírito. Esse nosso dilema constante. Invertermos a ordem em nosso interior, em nosso tempo, em nossas ações, em nossas prioridades. Trocamos constantemente nosso direito de primogenitura por um mero prato de lentilhas, quando desprezamos nosso relacionamento com o Eterno, nossa vida com Ele, nosso tempo de meditação e oração em sua presença, nosso descanso no shabat, o cumprimento das mitsvot, o estudo da Torá, trocando tudo isso por interesses momentâneos, meramente ligados ao mundo material e ao relacionamento horizontal com nosso próximo. Trocamos a busca do espiritual pela futilidade do sucesso e bem estar financeiro, esquecendo-nos de que nada disso nos trará a verdadeira plenitude e alegria, pois só poderemos ser realmente preenchidos e satisfeitos por aquilo que nos encheu e nos tornou plenos no início – a presença do Eterno, nossa união com Ele.
O trecho do discurso do rabino Yeshua fala exatamente sobre como é tola, superficial e inútil toda preocupação material – o que comeremos ou vestiremos, que, transportando para a complexa sociedade contemporânea se desdobraria em outros fatores como com que tipo de veículo deslocaremos, com o que preencheremos nossas horas de lazer e o que ostentaremos.
Ele desenvolve o texto, usando a natureza para citar exemplos de como somos realmente sustentados nesse mundo material, como tudo foi pensado e programado, arquitetado de modo maravilhoso para nos manter vivos e íntegros. Em seguida, fala claramente que se preocupar com o material na realidade é sinal de falta de fé. A fé é descrita mais tarde como a certeza das coisas que não se vêem, e esse é nosso grande desafio em tanto que seres dotados de apenas cinco sentidos que nos limitam ao conhecimento e sensação do que é material. Como inverter as coisas e ter certeza do que não se vê? Como descobrir que na realidade 2 e 2 são 5 e que é o invisível que domina o visível? Como sentir-se confiante, seguro e pleno em um mundo sobre o qual não temos o mínimo controle?
Eu costumo dizer que a lucidez sem fé é o inferno. Todos nós somos tomados por certa dose de estultícia, de burrice, de cegueira intelectual. Caso contrário, a vida se tornaria insuportável com os seus questionamentos, tais quais de onde viemos para onde vamos, por que, e, mais importante, para que estou aqui? Como atingir esse estado de fé em que o oculto se torna claro e o invisível passa a valer mais do que o que se toca à nossa volta? A resposta também se encontra no texto, assim como é indicada na Parashá Toledot. Pela ação. Buscai, antes, o Reino de Deus e todas essas coisas vos serão acrescentadas. A palavra chave, o verbo e alma da frase é buscar, que no judaísmo rabínico posterior foi substituído pela palavra estudar e que, no fundo, tem o mesmo sentido. Em quase todo tratado ou comentário à Torá se fala da importância de se estudá-la para adquirir a iluminação. Como se busca ao Reino de Deus? Estudando. Estudando o quê? As escrituras. E como se estuda? Inúmeros livros e manuais já foram escritos sobre esse tema tão importante. Estuda-se passando tempo, concentrado, ligado, absorvendo o que se ouve ou se lê. Estuda-se, dialogando com o mestre, tirando as dúvidas e colocando as questões que surgirem. Estuda-se interagindo com aquele que ensina, seja ele real ou virtual. Sem interação, todo estudo e toda busca são inúteis. Como, então, trazer para nossa realidade interior esse Reino de Deus, essa consciência do poder e da primazia do espiritual sobre o material? Pela busca, pelo estudo, pela prática. Fazendo isso, estaremos plantando em nós a certeza de Jacó, que se tornou pai de uma nação e com quem a bênção do Eterno estava: a primogenitura vale muito mais do que um prato de lentilhas, a plenitude espiritual é muito mais importante e duradoura do que a material.
Como Esaú, no texto (ele disse a Jacó: Dá-me o prato de lentilhas, senão morrerei!) nosso Yetzer Hará nos leva a crer que não podemos viver sem ele – sem a televisão cotidiana, sem as conversas no telefone e no MSN, sem os joguinhos na internet, sem a ambição e a dedicação ao trabalho que nos move e nos faz ter sucesso, sem as horas extras que nos trazem renda adicional, sem o lazer total do shabat, sem a zona de conforto... como é bom, quando se está esfomeado, um prato de lentilhas. Mas o mais incrível e que, como Esaú, queremos crer que, apesar de termos vendido nossa primogenitura, desprezando-a, ainda teremos direito à bênção de nosso pai, e nos revoltamos quando nosso irmão, que teve a visão espiritual, que se dedicou, estudou e viveu na zona do desconforto, a conquista em nosso lugar. Que nós possamos buscar e obter a lucidez com fé de que precisamos para enxergarmos, como Jacó nos ensina, como Yeshua tão claramente nos ordena, que é buscando o Reino de Deus que todo o resto – toda plenitude, que é tudo que verdadeiramente almejamos – nos será acrescentado.

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Lech Lechá - Anda para Ti - ser bênção para ser abençoado

1 Ora, disse o ETERNO a Abrão: Sai da tua terra, da tua parentela e da casa de teu pai e vai para a terra que te mostrarei;
2 de ti farei uma grande nação, e te abençoarei, e te engrandecerei o nome. Sê tu uma bênção!

A verdadeira bênção é ser uma bênção.

A caminhada ordenada pelo Eterno a Avram é a caminhada que todos nós somos chamados a fazer. Na vida, nosso objetivo é sairmos do mundo em que somos plantados pelo nascimento – nossa parentela, a casa de nosso pai, a visão materialista das coisas que as crianças têm e que muitos guardam até a morte – para a terra que o Eterno nos mostrar – o mundo da espiritualidade, que se descortina progressivamente à medida que caminhamos o caminho mostrado por HaShem. Durante essa caminhada, Ele faz a Avram três promessas e lhe dá uma ordem, que podemos aplicar a nós mesmos:
1- De ti farei uma grande nação: se caminharmos o caminho do Eterno, formaremos de nós uma grande nação, daremos frutos: aqueles que aprenderem conosco, aqueles a quem influenciarmos com nossa luz, aqueles que se beneficiarem de nosso amor, representados por nossos filhos espirituais e físicos, que se enriquecem com nosso caminhar na trilha mostrada pelo Eterno.
2- Te abençoarei: Sem dúvida, se caminharmos o caminho mostrado pelo Eterno, seremos abençoados com paz, plenitude e prosperidade em seu sentido mais amplo, como consequências naturais de nossa maneira de agir. A lei da semeadura é imutável e irrevogável e, caminhado o caminho para a Terra mostrada pelo Eterno, forçosamente plantaremos bem e colheremos bênçãos.
3- Engrandecerei o teu nome: Aquele que caminha o caminho do Eterno é reconhecido como modelo e parâmetro pelos que almejam o bem. À medida que se aproxima da terra prometida, seu nome é mais e mais engrandecido, seu exemplo é mais e mais visto, a tal ponto que coisas extraordinárias podem acontecer. Eu estava lendo a biografia de Dale Carnegie, autor do famoso livro "Como fazer amigos e influenciar pessoas",homem simples, nascido em uma fazenda, vaqueiro inculto, que finalmente passou a viajar os quatro cantos do mundo para dar palestras sobre relacionamento humano. Ele se colocou no caminho do andar para si mesmo, andar para dentro de si mesmo, na descoberta de sua riqueza e atributos interiores, ao mesmo tempo em que caminhava para a terra da espiritualidade mostrada pelo Eterno. O próprio Talmude afirma que não há quem comece a vida pobre que, estudando a Torá cuidadosamente, não a termine rico.

Finalmente, a ordem que o Eterno nos dá, além da de caminharmos para nós, é sermos bênção. Sermos bênção e caminharmos são condições para nos tornarmos uma grande nação, termos um nome engrandecido e sermos abençoados.
O ser uma benção implica em abençoar e interagir. A-bem-çoar significa dar, emanar, produzir bem. Não se pode ser uma bênção no isolamento. O ato de abençoar subentende alguma forma de interação, seja ela direta ou indireta, com o próximo. Implica em dedicação ao próximo, em ação, simbolizada no caminhar. É impossível se ser uma bênção sem caminhar, sem agir. Na omissão e na passividade não conseguimos tirar nosso foco de Malchut (nossa casa e nossa parentela) e avançar para a Terra prometida (Kether), o mundo espiritual, o que nos transformará em bênção.
O rabino Yeshua falou bem claramente sobre isso em Mateus 26:
Quando eu, o Machiach, vier em minha gloria, e todos os anjos comigo, então Eu me assentarei no meu trono de glória. E todas as nações serão reunidas diante de mim. Eu separarei as pessoas, como o pastor separa as ovelhas dos bodes. Colocarei as ovelhas a minha direita, e os bodes a minha esquerda. Então EU, o Rei, direi aqueles a minha direita: “Venham, bneditos do meu Pai, para o Reino preparado para vocês desde a fundação do mundo. Porque eu tive fome, e vocês me deram de comer; eu tive sede, e vocês me deram égua. Eu era um estrano, e vocês me convidaram para suas casas. Eu estive nu, e vocês me vestiram. Eu estive doente, na prisão, e vocês me visitaram. Então esses justos responderão: Senhor, quando foi que nos fizemos isso? E eu, o Rei, lhes direi: Quando vocês fizeram isso ao menor desses meus irmãos, estavam fazendo a mim. Depois, eu me voltarei para aqueles a minha esquerda e direi: Fora daqui, malditos, para o fogo eterno preparado para hasatan e seus demônios. Porque eu tive fome, e vcs não me deram de comer: tive sede, e vcs não me deram nada para beber. Fui estranho, e vocês me recusaram hospedagem. Eu estive nu, e vocês não quiseram vestir-me. Estive doente, na prisão, e vocês não me visitaram. Então eles responderão: Quando fizemos essas coisas? E eu responderei: Quando se recusaram a socorrer ao menor desses irmãos, vocês estavam recusando ajuda a mim.”
Avraham, como sabemos, foi um homem que cumpriu com esses preceitos, muito antes de Yeshua vir a terra. Prova disso é que hospedou os três viajantes, dentre eles o Eterno, convidando-os para sua casa e fazendo para eles um banquete, mesmo estando ainda se recuperando do doloroso brit milá feito na idade adulta e com parcos recursos médicos. Esse é o parâmetro do ser benção que devemos ter.
A expressão Lech Lechá – andar para ti– nos dá a entender que o principal beneficiado com essa caminhada da obediência e do serviço somos nós mesmos, alcançando enfim a terra prometida da plenitude e da espiritualidade completa.
Se continuarmos lendo a parashá, veremos que essa caminhada não está isenta de tropeços. A covardia fez com que Avram entregasse sua mulher ao faraó e mentisse, dizendo ser seu irmão, e a impaciência fez com que ele gerasse Ismael antes do prometido Isaque, causando uma série de problemas futuros, tanto em nível familiar quanto étnico. Mas a característica principal de Avraham era a obediência ao Eterno, o que permitiu que, apesar dos erros e percalços do caminho, ele chegasse à terra prometida e ainda enriquecesse sobremaneira, tanto no sentido físico como espiritual, durante essa mesma caminhada.
Que nós possamos, como Avram, ser bênçãos e ser abençoados em todos os sentidos. Que possamos não perder a visão de que somos chamados a caminharmos para nós mesmos, em direção â terra mostrada por Deus. Novamente, a caminhada de Avraham é, na realidade, a nossa caminhada pela vida. Uma caminhada de serviço e obediência.

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Assumindo a responsabilidade

Em Bereshit 2:6 temos um diálogo intrigante e revelador entre D-us e o primeiro casal:
6 Vendo a mulher que a árvore era boa para se comer, agradável aos olhos e árvore desejável para dar entendimento, tomou-lhe do fruto e comeu e deu também ao marido, e ele comeu.
7 Abriram-se, então, os olhos de ambos; e, percebendo que estavam nus, coseram folhas de figueira e fizeram cintas para si.
8 Quando ouviram a voz do D-us Eterno, que andava no jardim pela viração do dia, esconderam-se da presença do D-us Eterno, o homem e sua mulher, por entre as árvores do jardim.
9 E chamou o D-us Eterno ao homem e lhe perguntou: Onde estás?
10 Ele respondeu: Ouvi a tua voz no jardim, e, porque estava nu, tive medo, e me escondi.
11 Perguntou-lhe D-us: Quem te fez saber que estavas nu? Comeste da árvore de que te ordenei que não comesses?
12 Então, disse o homem: A mulher que me deste por esposa, ela me deu da árvore, e eu comi.
13 Disse o D-us Eterno à mulher: Que é isso que fizeste? Respondeu a mulher: A serpente me enganou, e eu comi.

Essa parte final do diálogo revela, segundo a cabala, a causa final da queda, da ruptura do homem, a sedimentação da separação do homem e do Eterno: além de se esconderem do Criador depois de terem comido da árvore do conhecimento do bem e do mal, tanto Adão como Eva culpam terceiros pelo seu próprio erro: “a mulher que tu me deste” “a serpente me enganou”. A cabala fala que precisamos assumir que, apesar dos outros à nossa volta também errarem e carregarem culpa, os únicos responsáveis por tudo que nos acontece somos nós mesmos. O que vivemos é o somatório de todas as nossas decisões certas e erradas tomadas na vida. Pela fuga e pelo culpar o outro pelo problema criado sedimentou-se e concretizou-se a ruptura.
Transportando-nos ao Berit HaDasha, vemos o famoso episódio da tríplice negação do apóstolo Pedro a Yeshua. Perto de onde se encontrava o rabino preso, Pedro é reconhecido três vezes como discípulo dele, e por três vezes afirma veementemente não conhecê-lo. Um erro, dir-se-ia, imperdoável.
No entanto, vemos o relato, em João 21:
Então aquele discípulo, a quem Yeshua amava, disse a Pedro: É o Senhor. E, quando Simão Pedro ouviu que era o Senhor, cingiu-se com a túnica (porque estava nu) e lançou-se ao mar.
8 E os outros discípulos foram com o barco (porque não estavam distantes da terra senão quase duzentos côvados), levando a rede cheia de peixes.
9 Logo que desceram para terra, viram ali brasas, e um peixe posto em cima, e pão.
10 Disse-lhes Yeshua: Trazei dos peixes que agora apanhastes.
11 Simão Pedro subiu e puxou a rede para terra, cheia de cento e cinqüenta e três grandes peixes e, sendo tantos, não se rompeu a rede.
¶ E, depois de terem jantado, disse Jesus a Simão Pedro: Simão, filho de Jonas, amas-me mais do que estes? E ele respondeu: Sim, Senhor, tu sabes que te amo. Disse-lhe: Apascenta os meus cordeiros.
16 Tornou a dizer-lhe segunda vez: Simão, filho de Jonas, amas-me? Disse-lhe: Sim, Senhor, tu sabes que te amo. Disse-lhe: Apascenta as minhas ovelhas.
17 Disse-lhe terceira vez: Simão, filho de Jonas, amas-me? Simão entristeceu-se por lhe ter dito terceira vez: Amas-me? E disse-lhe: Senhor, tu sabes tudo; tu sabes que eu te amo. Jesus disse-lhe: Apascenta as minhas ovelhas.


Esse é o relato do primeiro encontro de Pedro com Yeshua depois da negação. E o que Pedro faz? Simplesmente, em vez de fugir, lança-se ao mar e se joga na direção de Yeshua, na direção daquele contra quem ele errou, a quem ele traiu. Ele assume a culpa, afirma o amor pelo mesmo número de vezes em que o negou e é perdoado. Sabemos pelos relatos históricos que Pedro seguiu firme até a morte, quando foi crucificado, a seu próprio pedido, de cabeça para baixo, por não se achar digno de morrer como seu mestre.
O que isso mostra? Diante de nossos erros e nossas dificuldades, temos a opção de escolhermos uma dessas duas linhas de ação: a fuga e o culpar ao outro, ou o assumirmos a responsabilidade por nossos erros e o caminharmos de encontro à situação, para resolvê-la. Difícil? Sim. Mas a verdade é que perguntar-se: No que eu posso ter contribuído para a situação que estou vivendo? Onde foi que eu errei – e isso com seriedade e equilíbrio – em vez de focalizar a culpa do outro, em vez de se entregar à autocomiseração ou à sensação de vitimização, é a atitude mais restauradora e libertadora que se pode ter em relação a qualquer problema ou ainda a qualquer relacionamento difícil. Precisamos nos lembrar de que, no pior dos casos, no cenário mais difícil possível, ainda nos resta a alternativa de simplesmente nos retiramos da situação. E o não fazermos é opção unicamente nossa. Não o fazemos porque escolhemos não fazê-lo, e, por não tê-lo feito, devemos assumir as consequências desse fato, abraçando a situação que vivemos e sendo pró-ativos, como Pedro foi – saltou do barco e correu para a margem, ao encontro de Yeshua - e com isso foi perdoado e restaurado.
A sedimentação da queda do homem – da ruptura com Deus - aconteceu na verdade pela fuga, tanto física, se escondendo, quanto emocional – culpando o outro. Quantas vezes não fazemos a mesma coisa, com isso sedimentando ruptura com nosso próximo, ruptura com nossa paz, ruptura com nós mesmos? Que nós possamos assumir nossa responsabilidade e enfrentar todas as nossas situações, para com isso sermos perdoados e restaurados como Pedro foi.

domingo, 11 de outubro de 2009

Você fala de Jesus para os judeus por causa dos judeus ou por causa de você mesmo?

Tenho visto mtos evangélicos ou mesmo "judeus messiânicos" falarem de Yeshua para os judeus não messiânicos da forma mais gauche, descabida e desconcertante possível. Afirmam a messiandade de Yeshua de forma sutilmente agressiva, desafiadora e insensata: na verdade, eles a afirmam para eles mesmos, em algo como que um arroubo inquisidor. Yeshua não precisa ser declarado aos judeus como se fosse uma profissão de fé: profissão de fé se faz no meio de quem já acredita. Yeshua precisa ser explicado didática, inteligente e racionalmente, demonstrado por atos e vivido na prática do amor por ele preconizada. "Nisto conhecerão que sois meus discípulos, em que vos ameis uns aos outros". Não há nada mais agressivo e absurdo para um judeu tradicional do que alguém afirmar simplesmente que Yeshua é o messias de Israel e não complementar essa afirmação com dados concretos, fatos históricos, argumentação racional e crível. Quem foi Yeshua? Para começar, a maioria dos judeus, por mais religiosos que sejam, não tem a mínima idéia de suas obras e palavras. Não conhecem quem ele foi. Jamais leram qualquer palavra do Berit HaDashá. Para eles, nenhuma das técnicas de conversão evangélicas funciona. Eles falam outra língua, outro idioma. Seria o mesmo do que um americano tentar converter um japonês falando inglês. O mais estranho é que parece que ninguém atenta para isso. Parece que a obra "missionária" com os judeus se transformou na realidade em uma caçada de cabeças, em que algum judeu que se converta a Yeshua se transforma em um prêmio a ser exibido para todos, e em que, caso algum deles se mostre reticente e relutante em mudar de opinião quanto ao que aprendeu por tradição, se transforma em anátema, meliante, é melhor que se afaste mesmo, essa alma rebelde... O que digo é o seguinte: Se você quer converter judeus a Yeshua, se acha que esse é seu chamado, sua vocação pelo Eterno, pense bem - estude as escrituras, pesquise na net, leia livros, avalie suas ações - você é o espelho de Yeshua, e qualquer erro que cometer fatalmente se refletirá nele - esteja pronto a amar incondicionalmente, e a continuar amando, ainda que essa pessoa nunca aceite - ela tem essa liberdade. Um judeu convertido não é um prêmio para seu ego. E, se na verdade, você estiver falando de Yeshua para calar sua consciência, tem muita gente por aí para você tentar converter: as prisões estão cheias, as favelas e hospitais também estão cheios de gente precisando de você.
A Inquisição, com toda "boa intenção" que tinha, já fez seu trabalho sujo. Você não precisa completar a obra dela, passando por cima de sentimentos e impondo aos outros alguém que jamais se impôs a ninguém. Ele mesmo deu a fórmula: É pelo amor.

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Nosso solo, nossa alma, de Yehuda Berg

Não existe época melhor no ano para começar alguma coisa nova do que agora.

Nos últimos dois meses nos esforçamos muito para sermos pessoas melhores. Elul, Rosh Hashaná, os Dez Dias de Arrependimento, Yom Kipur, Sukot – tudo isto foi um preparo para o nosso solo. Que é nossa alma.

Não sou jardineiro, mas sei que a qualidade da colheita depende da qualidade do solo. Quanto mais você cultiva a terra [o processo pelo qual o solo é preparada através de arar, lavrar ou virar a terra], mais suas sementes criarão raízes e se desenvolverão.

Correr riscos, cavar mais fundo, implorar por perdão, examinar nossas lições, virarmos a nós mesmos pelo avesso, é exatamente o que temos feito nos últimos dois meses.

Agora o terreno está pronto.

PLANTE!

Agarre-se aos seus sonhos. Este é o momento de fazer com que eles aconteçam. E se você já estiver vivendo seu sonho, pode vivê-lo de maneiras até então desconhecidas para você.

Comece algo novo. Tire algum antigo projeto da prateleira mental e dê um sopro de vida nele. Esteja aberto para a ‘coincidência’ e para o ‘aleatório’. Há oportunidades em toda parte.

Seja arrojado e comece seu ano com um tom de certeza e sucesso.

Tudo de bom,

Yehuda

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Silêncio a dar lugar ao valor de Henry Levinspuhl

Esse texto não é meu, é do Henry, meu amigo de longa data, um escritor admirável que odiava tudo relacionado a Deus, foi estudar filosofia para refutar adequadamente os que Nele criam, e acabou apaixonado por Ele:

Se falar implica usualmente em dano é talvez porque, em geral, estamos desprovidos de espiritualidade, quando muito ainda raquítica, mirrada, nada preponderante, e mesmo quando só queremos discutir acerca dela, o que é pior que calar. A espiritualidade, o verdadeiro amor, é sábio e livre, embora mais raro do que a presunção imagina. Fora dela cumpria cultivar boa dose de precaução, e o mundo seria mais silencioso. Não é, e somos forçados a conviver com a tagarelice diária, senão mesmo com o quanto se acha no direito de derramar suas águas turvas onde quer que esteja, inundando as imediações de uma enxurrada catastrófica. A espiritualidade é bela como a brisa que farfalha as copas da vegetação profusa, e facilmente o perceberíamos se descansássemos o barulho. Então, e até sem palavras, um dia transmitiria glória a outro; a noite, a outra noite. Porém, tão persuadidos foram nossos vasos ocos de que deveriam tilintar incessantemente; ou ainda pior, pois garrafões de beberagem nociva se derramam em incessante brindar do direito conquistado para a fraude ganhar o mundo inteiro, perdendo não só a própria alma, senão ainda a dos outros. E posto que, em geral, somos desprovidos de espiritualidade, ou, quando muito, ela é ainda raquítica, mirrada, nada preponderante, tornar-se reservado seria imensa virtude, ou ao menos o caminho mais curto para chegar a ela.

terça-feira, 29 de setembro de 2009

Teoria e prática

...Disse Jesus aos seus discípulos:
«Quando o Filho do homem vier na sua glória
com todos os seus Anjos,
sentar-Se-á no seu trono glorioso.
Todas as nações se reunirão na sua presença
e Ele separará uns dos outros,
como o pastor separa as ovelhas dos cabritos;
e colocará as ovelhas à sua direita e os cabritos à sua esquerda.
Então o Rei dirá aos que estiverem à sua direita:
‘Vinde, benditos de meu Pai;
recebei como herança o reino
que vos está preparado desde a criação do mundo.
Porque tive fome e destes-Me de comer;
tive sede e destes-Me de beber;
era peregrino e Me recolhestes;
não tinha roupa e Me vestistes;
estive doente e viestes visitar-Me;
estava na prisão e fostes ver-Me’.
Então os justos Lhe dirão:
‘Senhor, quando é que Te vimos com fome
e Te demos de comer,
ou com sede e Te demos de beber?
Quando é que Te vimos peregrino e Te recolhemos,
ou sem roupa e Te vestimos?
Quando é que Te vimos doente ou na prisão e Te fomos ver?’.
E o Rei lhes responderá:
‘Em verdade vos digo: Quantas vezes o fizestes
a um dos meus irmãos mais pequeninos,
a Mim o fizestes’.
Dirá então aos que estiverem à sua esquerda:
‘Afastai-vos de Mim, malditos, para o fogo eterno,
preparado para o demônio e os seus anjos.
Porque tive fome e não Me destes de comer;
tive sede e não Me destes de beber;
era peregrino e não Me recolhestes;
estava sem roupa e não Me vestistes;
estive doente e na prisão e não Me fostes visitar’.
Então também eles Lhe hão de perguntar:
‘Senhor, quando é que Te vimos com fome ou com sede,
peregrino ou sem roupa, doente ou na prisão,
e não Te prestamos assistência?’
E Ele lhes responderá:
‘Em verdade vos digo: Quantas vezes o deixastes de fazer
a um dos meus irmãos mais pequeninos,
também a Mim o deixastes de fazer’.
Estes irão para o suplício eterno
e os justos para a vida eterna».
Mateus 25:31-46


“Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus.
Muitos, naquele dia, hão de dizer-me: Senhor, Senhor! Porventura, não temos nós profetizado em teu nome, e em teu nome não expelimos demônios, e em teu nome não fizemos muitos milagres?
Então, lhes direi explicitamente: nunca vos conheci. Apartai-vos de mim, os que praticais a iniqüidade.”
Mateus 7:21-23


Uma congregação religiosa precisa ter a ótica do Eterno. Precisa pensar no ser humano e não no dinheiro. Na prática e não em teoria apenas. Em almas e não em conhecimento desvinculado do agir. Precisa ser orientada para Deus e para o homem, não para a administração inócua da espiritualidade. Precisa ter amor pelas almas, pelo seu bem estar, precisa ver o ser humano como um todo, necessitado de bens espirituais, emocionais e materiais. Precisa ter a visão do envolver, do buscar, do trazer para perto, do discipular – e discipular é compartilhar da vida, compartilhar do dia a dia, é trocar, passar tempo junto, se abrir, ouvir e falar, sentir, ainda que, ao se fazê-lo, se abrace a vulnerabilidade que nos toca todas as vezes em que interagimos intensamente com o próximo. Precisa ter a visão do ide, mas também a do convívio, do aprofundamento, do fazer crescer e passar do leite ao alimento sólido.
Isso tudo é um processo lento, difícil, trabalhoso, sacrificial, doloroso. Um processo ao qual se entregam somente aqueles que são dignos, aqueles que entenderam a ótica de Deus – o servir, e não o ser servido, o dar, e não o receber.
Havendo o dar mútuo e recíproco, não há carência. Havendo somente o impulso do receber e do ser servido, a carência é geral e contínua, pois quem quer ser suprido não sabe suprir e com isso são criadas lacunas irremediáveis entre os indivíduos.
É preciso que entendamos que a prática do caminho é exatamente isso: prática. Essa foi a mensagem principal deixada por Jesus de Nazaré. Essa foi a mensagem principal deixada pelos Do Caminho, pelos Nazarenos: a prática. E foi por causa desta visão de prática, claro, dentro da ótica histórica maior do plano de expiação do Eterno, que Y’shua foi odiado, traído e morto pelos religiosos da época.
Precisamos tomar cuidado com a teoria e o teorizar sem fim. O conhecimento é atraente, apaixonante, viciante. Debates enchem a alma, satisfazem, de certo modo, carências profundas que temos em nós. Mas a teoria não salva. A teoria não traz pessoas ao Eterno. A teoria e o teorizar estão longe do plano e do projeto que Ele tem para as nossas vidas.
Precisamos, sim, definir nosso referencial. Precisamos optar: com quem nos identificaremos, a quem seguiremos? A Yeshua, que ousou ir contra sinédrios, escribas e fariseus, engordados de cultura religiosa, de tradições, de leis e cercas em torno delas, e com pouca ou nenhuma prática, ou mesmo uma prática que ia em sentido contrário à essência destas leis? Porque ele foi bem claro ao dizer que seus discípulos seriam reconhecidos nisto: em que se amassem uns aos outros.
Ou seguiremos exatamente a estes escribas e fariseus, ainda que nos enganemos, repudiando sua prática e modo de vida, esquecendo de reconhecer que, ao vivermos um judaísmo apenas profundamente teórico e reflexivo, estamos nos tornando exatamente como eles? Por isso é necessária uma vivência religiosa com referenciais e propósitos. Yeshua foi claríssimo no que ele disse. A ação prática e amorosa é que é resultado da verdadeira salvação. O simplesmente pregar, falar, expulsar demônios e fazer milagres não conta nesta matemática. Quem se limita a isso não entendeu nada.
Há aí um aparente paradoxo. Ele não nos enviou a pregar as boas novas? A Jerusalém, Samaria, até os confins da terra?
Sim, mas a pregação dissociada do amor é vã e infrutífera. Tem efeito efêmero e desvirtuado. Cria discípulos semelhantes ao mestre: deturpados em sua prática religiosa, hipócritas e egoístas.
Qual ótica, então escolher? Qual referencial abraçar? Yeshua foi profundamente claro no que falou e no modo como agiu:
A ótica do serviço impulsionado pelo amor e guiado pela Ruach HaKodesh.
Dar de comer, dar de beber, receber em casa ou em local providenciado para tal, vestir, visitar, são ações que cobram tempo, envolvimento financeiro, comprometimento emocional. São ações que forçam uma interação estreita, laços de alma e sentimento, continuidade.
Profetizar, fazer milagres, expulsar demônios são ações que não precisam envolver a alma. Que não cobram comprometimento com o indivíduo. Que não exigem amor ao próximo. São ações que acariciam o ego e suprem perfeitamente, ou quase, a intrínseca fome do ser humano de auto-afirmação. São atividades auto-recompensadoras por si só. São ações que, apesar de necessárias, constituem apenas uma primeira abordagem, um entrar em contato com o ser, um roçar, um prefácio no livro do relacionamento. Não são o caminho e, por isso,não salvam.
Mas são inebriantes, e existe nelas, como mostra a passagem, o perigo do se perder, do se enganar, do se espantar ao se ver confrontado com a realidade espiritual. São ações falsamente auto-justificadoras.
É preciso que acordemos para isso. Tenho visto isso no judaísmo messiânico mundial, mas principalmente no brasileiro. Muita discussão e pouca ação real. Muito farisaísmo e pouco amor.
É preciso que façamos uma auto-análise sincera à ótica das palavras de Yeshua e à ótica da essência da Torah. É preciso que não nos percamos nos deliciosos meandros, por vezes tão sofistas, do teorizar a religião, esquecendo-nos que o próprio termo significa algo prático: religar o homem ao Eterno. Agora, então, com a Internet, tornou-se extremamente fácil, quase compulsivo e obrigatório esse mundo em que relacionamentos só vão até o meio do caminho, em que um toque em um botão desliga todo vínculo emocional e espiritual, em que rostos se transformam em letras, lágrimas em imagens mortas, em que as discussões se prolongam e se acirram, enquanto lá fora há pessoas ansiando por abraços, por água, por comida, por mãos estendidas. Não quero aqui com isso dizer que a Internet é prejudicial. Longe disso. Não fosse por ela, tanto conhecimento, que potencialmente pode ser transformado em prática benéfica, não estaria sendo passado. Corações se abrem e se curam através dela, e também através dela o nome do Eterno é divulgado e honrado. Nem é ela a única vilã do desamor. A hipocrisia de uma religião dissociada do sentimento que cobra ação já existia muito antes de qualquer meio de comunicação elétrico ou eletrônico. Já existia na época de Y’shua. Muito antes dela.
O que quero dizer aqui é que é preciso haver um equilíbrio entre teoria e prática, entre palavra e ação. É preciso que despertemos para o fato de que o “fazer discípulos” definido por Y’shua é muito mais do que apenas falar dele, seja por que mídia for, ao nosso próximo. O discipular envolve enxergar o indivíduo como um todo e estender a mão para suprir suas carências onde quer que elas estejam. O discipular envolve cheiros, gostos, matéria, carências, espírito e sentimentos. O discipular é o interagir da mistura de tudo aquilo que somos.
Que nós possamos ter em mente que modelos corretos nos levam a caminhos corretos, e que, antes de tudo, nosso modelo é Y’shua HaMashiach.

Perguntas que todo judeu deveria se fazer sobre Yeshua

Perguntas que todo judeu deve se fazer em relação a Jesus de Nazaré, Yeshua HaNatzri

• Por que a atitude de negação (Judaísmo messiânico não existe!) da comunidade judaica tradicional em relação a uma vertente que já aglutina pelo menos 260 mil judeus, cujas sinagogas se espalham pelo mundo, especialmente nos EUA e Israel?
• O mercado de livros e judaica judaico-messiânico já ultrapassou o do judaísmo tradicional. O que o judaísmo messiânico tem, que o judaísmo tradicional não tem, já que cresce tanto e fomenta tanto interesse ? O que ele oferece, que atrai tantas pessoas? O que faz a diferença?
• Você quer realmente saber se Yeshua é o messias ou não? Qual a importância disso para você?
• Que grau de certeza você tem de que ele NÃO SEJA o messias? Por quê? Em que se baseia essa sua certeza?
• Você tem medo do que os outros vão pensar e fazer com você, caso acredite que Yeshua é o messias? Esse medo influencia sua decisão?
• Você se sente traindo as tradições do seu povo?
• A Inquisição e o Holocausto influenciam sua rejeição a Yeshua?
• O que seria pior diante de HaShem? Acreditar de boa fé que alguém que na realidade não é o messias o é, ou rejeitar o verdadeiro Messias enviado pelo Eterno?
• Você já pesquisou de modo objetivo, tentando descobrir se Yeshua cumpriu com as profecias sobre o messias ou não? Você conhece as probabilidades de alguém ter cumprido com todas as profecias messiânicas do Tanach que Yeshua cumpriu?

Yom Kippur

Ontem estive no Kippur, no Rio, da BTY e da CJB. Duas siglas com muito em comum e muito de diferente. Na BTY, de manhã, as músicas lindas, num crescendo de entrega e beleza, de profundidade e perdão, tive a alma lavada em choro, aquele choro bom, que limpa, desafoga, transforma e alivia, não um choro de tristeza, mas um choro de amor pelo Criador e sua infinita capacidade de perdoar e amar. Na CJB, à tarde, uma inundação de beleza: homens e mulheres de talitim e kipot de cores diversas, a música linda, a arca branca e dourada com várias torot das mais lindas em seu interior, sendo levadas, com alegria, sendo beijadas com amor e respeito, tudo num ambiente maravilhoso, o mar e o céu por moldura atrás dos vidros enormes... e a sensação de se estar perdoado, reconciliado com o Eterno, livre do peso dos pecados muitos, em um novo começo...

sábado, 26 de setembro de 2009

Judaísmo messiânico, o que é isso?

Se eu sou judia messiânica? Não. Não faço parte do que se chama atualmente no Brasil de judaísmo messiânico. Judaísmo messiânico nos moldes brasileiros, com raríssimas exceções, é para igreja evangélica "restaurando raizes judaicas". O judaísmo messiânico nos moldes brasileiros, repito, com raríssimas exceções, é um arremedo triste e periférico do verdadeiro judaísmo. Isso mesmo, daquele professado e vivido por Yeshua de Nazaré, que nunca pretendeu fundar qualquer nova religião.

Se eu acredito que Yeshua de Nazaré é o messias esperado por Israel e prometido no Tanach? Sim, integralmente. Com base em pesquisas profundas e objetivas. Mas isso é outra história, que um dia conto.

O fato é que "restaurar raízes judaicas" é muito mais do que soprar no shofar, celebrar festas à moda showbiz, vestir talit e kipá, abrir arca, passear com rolo ou falar palavras hebraicas como se fossem códigos para a abertura de alguma caixa-forte espiritual.

O "restaurar as raízes judaicas" verdadeiro é voltar lá no texto dos evangelhos e seguir direitinho o que o Filho do Homem (vide Daniel 7) falava e imitá-lo no que ele vivia. Porque infelizmente o que anda por aí é o espírito da Inquisição, naqueles que se enchem de ódio, acusam e matam espiritualmente o diferente, segregando-o por ele não acreditar da mesma forma.

Seguir Yeshua é muito mais do que crer apenas na teoria de que ele morreu na cruz para nos salvar, criando um estilo de vida totalmente esquizofrênico: acredito, mas isso não provoca em mim efeito algum. Não muda minha vida em nada.

Vestir talit como uma capa de superhomem, "fazer parte" de um povo especial, comemorar festas coloridas pode ser apenas mais um alimento para o ego, se não vier acompanhado da verdadeira mudança: viver em amor, verdade e justiça, como Yeshua viveu. Isso é restaurar raízes. O resto é balela e pirotecnia, que apenas alimenta e reforça a compreensível ogeriza judaica por tudo que se assemelhe, por mais de longe que seja, à Inquisição do passado.

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Parashá Haazinu e Yom Kipur

Messiânico

Deuteronômio 32:6
É assim que recompensas ao ETERNO, povo louco e ignorante? Não é ele teu pai, que te adquiriu, te fez e te estabeleceu?
39 Vede, agora, que Eu Sou, Eu somente, e mais nenhum deus além de mim; eu mato e eu faço viver; eu firo e eu saro; e não há quem possa livrar alguém da minha mão.

Essa parashá fala mais do que todas as outras no poder que o Eterno tem sobre nossas vidas e sobre nossa teimosia em não reconhecermos esse poder, em não sermos gratos e em não nos dedicarmos e submetermos a Ele. O conceito de Deus como pai não é, como muitos pensam, um conceito cristão estabelecido por Yeshua HaMashiach, mas um conceito profundamente fundamentado na Torah.

Não é ele teu pai, eu te adquiriu, te fez e te estabeleceu?

Por que essas palavras, e nessa ordem, adquirir, fazer e estabelecer?
A palavra adquirir aqui tem o mesmo sentido de comprar, regatar por preço.
A palavra estabelecer significa proporcionar estabilidade a; tornar estável ou firme; dar existência a; fundar; instituir; determinar; estipular;organizar; fixar;
Mas não bastaria ter feito e estabelecido para se tornar dono? Por que seria necessário, além de fazer e estabelecer, também comprar?
O homem, depois de criado por Deus, decidiu seguir um caminho diferente. Por causa desse caminho em que ele se opunha, se afastava da Luz, em que limitava a luz do Eterno em sua existência, se tornou escravo da ausência da Luz que ele mesmo provocou, se transformou em escravo de seu próprio ego, escravo de HaSatan. E com escravo, para que novamente se tornasse filho, era preciso ser resgatado, ser comprado. Resgatado de que? Resgatado do desejo compulsivo de seguir seus próprios caminhos, de limitar o que receberia do Eterno, de tomar suas próprias decisões, de romper com Ele, e, principalmente, da culpa dos erros naturalmente decorrentes dessa posição e dessa decisão – tikun.
Tanto no Tanach como no Berit HaDashá encontramos várias vezes a palavra resgatado,comprado, adquirido:
Isaías 51:11
Assim voltarão os resgatados do SENHOR, e virão a Sião com júbilo, e perpétua alegria haverá sobre as suas cabeças; gozo e alegria alcançarão, a tristeza e o gemido fugirão.
Isaías 52:3
Porque assim diz o SENHOR: Por nada fostes vendidos; também sem dinheiro sereis resgatados.
I Coríntios 6:20
Porque fostes comprados por bom preço; glorificai, pois, a Deus no vosso corpo, e no vosso espírito, os quais pertencem a Deus.
I Corintios 7:2,3
Fostes comprados por bom preço; não vos façais servos dos homens.
Apocalipse 14:3
...cantavam um como cântico novo diante do trono, e diante dos quatro animais e dos anciãos; e ninguém podia aprender aquele cântico, senão os cento e quarenta e quatro mil que foram comprados da terra.
I Pedro 3:18, 19,20
Sabendo que não foi com coisas corruptíveis, como prata ou ouro, que fostes resgatados da vossa vã maneira de viver ... Mas com o precioso sangue de Yeshua, como de um cordeiro imaculado e incontaminado,
o qual, na verdade, em outro tempo foi conhecido, ainda antes da fundação do mundo, mas manifestado nestes últimos tempos por amor de vós;

De nada adianta fazer alguém, criar alguém e estabelecer alguém para que esse alguém continue a viver uma vida de escravidão, de ruptura, uma vida de separação, limitação e infelicidade.

Essa parashá é uma parashá profética, que fala sobre as constantes idas e vindas do povo de Israel e, em nível mais profundo, de cada um de nós, de nossas constantes quedas e recuperação. E também fala de compra, resgate, aquisição. Fala sobre o que aconteceria no futuro ao povo de Israel.

Mas que aquisição é essa, de que nos fala a Torá? Que resgate é esse, pago pelo Criador por algo que Ele mesmo fez, e que deveria naturalmente ser seu?

O resgate do Tikun, Tikun este que implica em separação em desamonia com o que é perfeito, e é explicado no Berit HaDashá:

Sabendo que não foi com coisas corruptíveis, como prata ou ouro, que fostes resgatados da vossa vã maneira de viver ...
Mas com o precioso sangue de Yeshua, como de um cordeiro imaculado e incontaminado,
O qual, na verdade, em outro tempo foi conhecido, ainda antes da fundação do mundo, mas manifestado nestes últimos tempos por amor de vós;


Então, que preço é esse, que não é dinheiro, como bem diz o Tanach, em Isaías?

Preço de expiação. Preço de sangue.

O Talmud afirma:

Não há Yom Kipur sem sangue. (Yomá 5a)

Toda a Torá aponta para essa forma de resgate: o resgate dos primogênitos, ocorrido em Pesach, em que o sangue de um cordeiro perfeito era passado nas portas, impedindo a morte dos primeiros filhos hebreus. As constantes ofertas pelo pecado, que envolviam derramamento de sangue de diversos animais. A expiação máxima da culpa, ocorrida em Yom Kipur, em que um bode era degolado e seu sangue aspergido sobre o povo, liberando-o de toda culpa e outro enviado ao deserto, para morrer.

O Talmud nos conta que:"Durante os quarenta anos antes da destruição do Segundo Templo, a sorte* escrita ‘Para o Senhor’ não vinha mais não mão direita do Cohen Gadol (Sumo Sacedote), nem o fio vermelho** ficava branco, nem a lâmpada ocidental a Menorá do Templo permanecia acesa e as portas do Santuário abriam por sí só" (Yomá 39b). *A sorte para o Senhor é uma referência ao texto de Lv 16.6-9. Ao bode que seria para expiação do povo. Havia um sorteio e por um sinal de D'us saía 'Goral LaHaShem' mas, neste período isto não acontecia mais. Sinal que D'us não estava mais recebendo as ofertas pelo pecado, pois o Mashiach Yeshua se ofereceu como perfeito sacrifício pelo pecado. Exatamente neste período de 40 anos antes da destruição do Templo, aproximadamente o ano 30 d.C. ** O fio vermelho era o fio de escarlate que perdia sua cor (ficando branco) como sinal de aceitação de D'us à oferta de Israel. Este fenômeno também não acontecia mais. "Eis que o véu do santuário se rasgou em duas partes de alto a baixo..." (Mt 27.51). “Há um interessante comentário feito por Ibn Ezra, um comentarista bíblico judeu medieval, a respeito de Levítico 16.9-10. Ibn Ezra fixa seu comentário em Levítico 16.9: “Se você deseja conhecer o mistério do bode expiatório deve conhecer primeiro quem morreu na idade de 33 (trinta e três)...”. Não foi ele quem elaborou este ponto. Um comentarista posterior, um dos mais famosos Rabinos Judeus da era de ouro, do exílio espanhol, rabino Moshê Ben-Nachman, afirma neste verso: “Eu digo que o Rabino Abraham Ibn Ezra quis dizer, “a idade de 33...”: Esaú e o Reino de Edom”. Na terminologia judaica medieval, Esaú é Yeshua, e o Reino de Edom é o Império Romano. Assim, o Rabino Moshê identifica a pessoa de quem o Rabino Ibn Ezra estava falando como sendo Yeshua. Yeshua é o bode expiatório que leva os pecados de Israel sobre si no dia da expiação. É interessante ver rabinos que identificam o bode expiatório como Yeshua e ainda não acreditam n’Ele. A razão pela qual esses rabinos são capazes disso é porque eles viviam sobre a impressão errada que cristianismo é para gentios e não para Judeus”.

O que significa tudo isso?
Porque o sacrifício tradicional de Yom Kipur, exatamente a partir da morte de Yeshua, segundo a própria interpretação dos eruditos judaicos da época, que não aceitavam o rabino Yeshua como messias de Israel, não foi mais aceito pelo Eterno? Por que a forma tradicional de expiação deixou de valer, se não havia Yom Kippur sem sangue?
O que significava o fato de as portas do templo se abrirem sozinhas?
Por que o Talmud, obra essencialmente judaica, afirma que não há Kipur, expiação, perdão, sem sangue? E por que o povo de Israel foi privado (e o Eterno permitiu, essa parashá mesmo diz que toda derrota foi com a permissão do Eterno) da expiação com sangue de animais, já que todo sacrifício deveria ser feito apenas no templo, segundo o Tanach? E por que os escritos messiânicos nos dão resposta para isso, afirmando que Yeshua, segundo eles o messias de Israel, morrendo na cruz, em Jerusalém, cidade do Templo, tinha provido ele mesmo o sacrifício perfeito, cumprindo com tudo aquilo para o qual o arquétipo do sangue animal apontava e preparava a alma de um povo?
Segundo ele mesmo, Yeshua, em sua pré-existência, é um ser divino, que se identificava como aquele de Daniel 7: 13: Eu estava olhando nas minhas visões da noite, e eis que vinha nas nuvens do céu um como o filho do homem; e dirigiu-se ao ancião de dias, e o fizeram chegar até ele. E foi-lhe dado o domínio, e a honra, e o reino, para que todos os povos, nações e línguas o servissem; o seu domínio é um domínio eterno, que não passará, e o seu reino tal, que não será destruído)

E por que a parashá Haazinu, parashá profética, fala de comprar, expiar, resgatar, além de fazer e estabelecer?

Fiquemos com estas perguntas e tenhamos em mente que o Eterno, a seu tempo, faz tudo completo. Que Ele mesmo já proveu, em Malchut, no mundo material, meio para que toda separação, toda ruptura causada pelo pão da vergonha seja anulada. Para que todo tikun seja expiado, apagado, coberto como foram as portas das casas imbuídas do sangue do cordeiro pascal. Como foram as almas do povo aspergido com o sangue do bode de Yom Kippur. Que possamos entender que tudo que precisamos fazer é receber essa dádiva de expiação e nos apegarmos a ela. Que nós possamos entender esse mistério e não menosprezá-lo, para que possamos continuar em nossa caminhada de devekut, de adesão ao Eterno, e para se que cumpram em nós as palavras do Salmo 91: porque a mim se apegou com amor,também eu o livrarei; pô-lo-ei num alto retiro, porque conheceu o meu nome.Ele me invocará, e eu lhe responderei; {estarei} com ele na angústia; livrá-lo-ei e o glorificarei. Dar-lhe-ei abundância de dias, e lhe mostrarei a minha salvação.

O que mais podemos desejar?

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Conviver é preciso e é bom

“Maimônides, o grande rabino, em seu comentário sobre a mishná, no décimo capitulo do tratdo “Sanhedrin”, faz uma exposição da tradição e da doutrina do judaísmo. Redigida para proporcionar uma resposta às dificuldades e às necessidades do povo judeu e com o intuito de preservar a unidade de seu povo, essa introdução levou Maimônides a sacrificar seus princípios liberais e a propor um quadro quase dogmático que representa, sob seu próprio ponto de vista, o verdadeiro credo do judaísmo, que pode ser resumido da seguinte forma:
1. Eu acredito plenamente que o Criador, que Seu nome seja bendito, é o Criador e Guia de todos os seres, que Ele e apenas Ele, criou, cria e criará todas as coisas.
2. Eu acredito plenamente que o Criador, que Seu nome seja bendito, é Um e único, e que não existe nada mais único do que Ele; que apenas Ele é nosso Deus, era, é e será.
3. Eu acredito plenamente que o Criador, que Seu nome seja bendito, é etéreo; ele não tem nenhuma propriedade antropomórfica, que nada é parecido com Ele.
4. Eu acredito plenamente que o Criador, que Seu nome seja bendito, é primeiro e último
5. Eu acredito plenamente que o Criador, que Seu nome seja bendito, é o único a quem é apropriado rezarmos e que não é apropriado rezar a mais ninguém.
6. Eu acredito plenamente que todas as palavras dos profetas são verdadeiras.
7. Eu acredito plenamente que a profecia de Moisés, nosso mestre, que esteja em paz, foi verdadeira, que foi ele o pai de todos os profetas, daqueles que o precederam como daqueles que o seguiram (no sentido de ter sido o maior deles).
8. Eu acredito plenamente que a totalidade da Torah está em nossas mãos e foi dada a Moisés, nosso mestre, que descanse em paz.
9. Eu acredito plenamente que essa Torah não será modificada e que não haverá outra Torá dada pelo Criador, bendito seja seu nome.
10. Eu acredito plenamente que o Criador, bendito seja Seu nome, conhece todas as ações e todos os pensamentos de todos os seres humanos, como está escrito: “É ele que amolda o coração de todos, Ele capta todas as suas ações” (Salmos 33:15)
11. Eu acredito plenamente que o Criador, bendito seja Seu nome, recompensa aqueles que observam Seus mandamentos, e pune aqueles que os transgridem.
12. Eu acredito plenamente na vinda do Messias, ainda que possa tardar, no entanto espero a cada dia pela sua vinda.
13. Eu acredito plenamente que haverá ressurreição dos mortos, no momento em que assim desejar nosso Criador, bendito seja seu nome, exaltada seja a Sua recordação para todo o sempre.

Incorporados depois à liturgia de várias populações judias, esses princípios foram recebidos com grande alegria pelas comunidades carentes, transformando-se em hinos de glorificação a Deus, cujo mais famoso é o Yigdal, de autor desconhecido, que é cantado até hoje nas sinagogas.”
Do livro Maimônides, os 613 mandamentos, tradução e biografia de Giuseppe Nahaïssi


Lendo esse maravilhoso livro, me veio a vontade de falar sobre o que me tem envolvido e me vocacionado há bastante tempo – a convivência entre todos os tipos de judeus, até mesmo os judeus messiânicos e não messiânicos.

Nosso povo vem sofrendo inúmeros e abertos ataques, gerados pelo antissemitismo crescente no mundo. Presidentes e imprensa têm minimizado genocídios no passado e terrorismo no presente, numa cegueira e parcialidade total em relação a acontecimentos e interpretações de fatos históricos.
Mais do que nunca, nosso povo precisa crescer e se unir. No entanto, o judaísmo tradicional, e principalmente o ortodoxo, vem rejeitando violentamente uma vertente que chamam de apóstata e cuja judaicidade se recusa a admitir, que vem crescendo assustadoramente nas últimas duas décadas e que já se tornou um segmento representativo do judaísmo – o judaísmo messiânico. Prova disso, o governo de Israel já aceita messiânicos em Aliah, o mercado messiânico já se tornou o maior consumidor de produtos e livros judaicos, há mais de 300 mil judeus messiânicos de origem judaica comprovada nos Estados Unidos, e o número de suas sinagogas está a pouco de se equiparar ao das sinagogas tradicionais.
Nessa versão do judaísmo, os adeptos acreditam que Jesus de Nazaré, por eles denominado Yeshua, é o messias prometido de Israel, pelo qual as outras vertentes do judaísmo ainda esperam. Os judeus messiânicos aceitam ainda o B’rit Hadashah, o novo testamento encontrado nas bíblias católicas e protestantes, em sua versão judaica, que contém quatro versões da vida e morte de Jesus, os atos dos primeiros tempos da seita dos nazarenos por ele criada e cartas de alguns personagens importantes dessa fé.
Em todo o resto as crenças são as mesmas.
Lendo o Yigdal, me dei conta da total e absoluta falta de sensatez desse cisma e rejeição. O famoso credo judaico seria idêntico ao messiânico, se apenas uma palavra fosse trocada: A palavra vinda pela palavra volta do Messias.

Impressionante como uma simples e única palavra pode fazer com que pessoas de um mesmo povo possam ser separadas por um abismo aparentemente intransponível. Impressionante como um lado, cativo em sua inflexibilidade, pode rejeitar e afastar radicalmente o outro que o fortaleceria, e como o outro lado, tomado pela fúria proselitista, pode deixar de enxergar e amar, pode perseguir e agredir aquele que se recusa a acreditar no que acreditam ser verdade.

Apenas uma palavra.

Incrivelmente interessante e triste, como a diferença de apenas uma palavra em um Credo pode criar esse abismo aparentemente intransponível. Digo aparentemente, porque aqui em Cabo Frio temos vivenciado algo diferente em nossa pequena kehilah, algo de que nunca ouvi em todo o Brasil ou mesmo no exterior. Tenho conta disso apenas nos relatos dos primórdios da seita dos nazarenos freqüentadores das sinagogas tradicionais, que, mais tarde, deu origem ao cristianismo de Constantino, que quase nada tem em comum com o do primeiro século da Era Comum.

Em uma cidade com poucos judeus e quase todos não praticantes ou de prática esporádica, judeus ortodoxos, reformistas, cabalistas e messiânicos se reúnem em harmonia em um só lugar, com uma condição – o direito de acreditarem e o direito de não acreditarem na messiandade de Jesus de Nazaré, sem que nenhum grupo tente impor ao outro sua crença nesse aspecto específico.

Os serviços e festas são celebrados ao modo judaico, a mesma chalá é comida, o mesmo vinho é bebido e as mesmas bênçãos são recitadas no kabalat shabat; o siddur tradicional é usado e os comentários da parashá são feitos em várias versões. Quem não quiser ouvir a versão do outro, tem toda a liberdade para se ausentar e só voltar no final. Sem traumas. Sem condenações. Sem preconceitos. Quem quer acreditar, que continue acreditando. E quem não quer acreditar, que continue não acreditando.

Com certeza, as críticas virão. Haverá quem se aproxime para avisar os dois lados do perigo da convivência. Dos preconceitos contra os messiânicos dentro da comunidade judaica. Da rigidez e teimosia dos não messiânicos. Mas toda interação só provoca mudanças quando não se tem convicção daquilo em que se crê.

No entanto, convivência e intercâmbio se criam. O diálogo e o amor se formam. Florescem facilmente, quando se permite. E um descobre que o outro, apesar de crer diferente, não é um bicho de sete cabeças nem oferece perigo àquele que tem convicções firmes e enraizadas. Um descobre que o outro é gente, que o outro também é judeu, que o outro também ama as mesmas coisas e crê nas mesmas coisas, e que apenas uma palavrinha em todo o credo é diferente. Descobre-se que se é um só, mesmo que o messias seja diferente. Descobre-se que o Deus é o mesmo e que é isso que importa. Para os messiânicos dessa kehilá, em número equivalente aos tradicionais, o importante não é impor a messiandade de Yeshua, mas aprender e ensinar que a convivência em amizade e harmonia é mais importante. E que ninguém precisa mudar apenas porque o outro é diferente.

Quiçá isso possa se espalhar pelo Brasil e pelo mundo, e possamos entender que apenas detalhes não podem fazer com que um povo que precisa de força e crescimento se divida em dois.

Cabala

Cabala não é adivinhação.
Cabala não é numerologia.
Cabala não é esoterismo.
Cabala não é astrologia.
Cabala não é magia.
Cabala não é do diabo.
Não se faz cabala.
Estuda-se cabala.
Vive-se cabala.
E, estudando-se cabala, vivendo cabala, assimilando a cabala como o corpo assimila e comida, aprende-se a entender. Aprende-se a ouvir Deus. Aprende-se a se apegar a Deus. Aprende-se a receber. Aprende-se que o receber de Deus, sem limites, o abrir mão do pão da vergonha por amor ao Emanador é o que nos faz voltar para casa.

Rosh HaShana

Acabou um ano, começou o outro, e com esse recomeço os dez dias temíveis. Começar temendo, começar revendo, começar analisando e tirando as cascas que nos impedem de ver o que deveríamos ver. Esse é o verdadeiro começo. Mas, como a sucessão de parashiot e de anos nos mostram, tudo se encadeia, e os iamin noraim existem para nos lembrar que nesse encadear constante precisamos respirar. Precisamos olhar para o alto, precisamos olhar para dentro de nós mesmos e nos afinar com o Alto e Sublime, que habita no santo lugar. Começar com dias temíveis, para nos lembrar que, antes de qualquer começo, é preciso olhar para dentro, criar e fixar uma base segura para todo empreendimento, que vem do nosso acerto e apego com a Luz. Que esses dias não sejam excessão no ano, mas apenas uma lembrança de um aprofundamento maior.