terça-feira, 29 de setembro de 2009

Teoria e prática

...Disse Jesus aos seus discípulos:
«Quando o Filho do homem vier na sua glória
com todos os seus Anjos,
sentar-Se-á no seu trono glorioso.
Todas as nações se reunirão na sua presença
e Ele separará uns dos outros,
como o pastor separa as ovelhas dos cabritos;
e colocará as ovelhas à sua direita e os cabritos à sua esquerda.
Então o Rei dirá aos que estiverem à sua direita:
‘Vinde, benditos de meu Pai;
recebei como herança o reino
que vos está preparado desde a criação do mundo.
Porque tive fome e destes-Me de comer;
tive sede e destes-Me de beber;
era peregrino e Me recolhestes;
não tinha roupa e Me vestistes;
estive doente e viestes visitar-Me;
estava na prisão e fostes ver-Me’.
Então os justos Lhe dirão:
‘Senhor, quando é que Te vimos com fome
e Te demos de comer,
ou com sede e Te demos de beber?
Quando é que Te vimos peregrino e Te recolhemos,
ou sem roupa e Te vestimos?
Quando é que Te vimos doente ou na prisão e Te fomos ver?’.
E o Rei lhes responderá:
‘Em verdade vos digo: Quantas vezes o fizestes
a um dos meus irmãos mais pequeninos,
a Mim o fizestes’.
Dirá então aos que estiverem à sua esquerda:
‘Afastai-vos de Mim, malditos, para o fogo eterno,
preparado para o demônio e os seus anjos.
Porque tive fome e não Me destes de comer;
tive sede e não Me destes de beber;
era peregrino e não Me recolhestes;
estava sem roupa e não Me vestistes;
estive doente e na prisão e não Me fostes visitar’.
Então também eles Lhe hão de perguntar:
‘Senhor, quando é que Te vimos com fome ou com sede,
peregrino ou sem roupa, doente ou na prisão,
e não Te prestamos assistência?’
E Ele lhes responderá:
‘Em verdade vos digo: Quantas vezes o deixastes de fazer
a um dos meus irmãos mais pequeninos,
também a Mim o deixastes de fazer’.
Estes irão para o suplício eterno
e os justos para a vida eterna».
Mateus 25:31-46


“Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus.
Muitos, naquele dia, hão de dizer-me: Senhor, Senhor! Porventura, não temos nós profetizado em teu nome, e em teu nome não expelimos demônios, e em teu nome não fizemos muitos milagres?
Então, lhes direi explicitamente: nunca vos conheci. Apartai-vos de mim, os que praticais a iniqüidade.”
Mateus 7:21-23


Uma congregação religiosa precisa ter a ótica do Eterno. Precisa pensar no ser humano e não no dinheiro. Na prática e não em teoria apenas. Em almas e não em conhecimento desvinculado do agir. Precisa ser orientada para Deus e para o homem, não para a administração inócua da espiritualidade. Precisa ter amor pelas almas, pelo seu bem estar, precisa ver o ser humano como um todo, necessitado de bens espirituais, emocionais e materiais. Precisa ter a visão do envolver, do buscar, do trazer para perto, do discipular – e discipular é compartilhar da vida, compartilhar do dia a dia, é trocar, passar tempo junto, se abrir, ouvir e falar, sentir, ainda que, ao se fazê-lo, se abrace a vulnerabilidade que nos toca todas as vezes em que interagimos intensamente com o próximo. Precisa ter a visão do ide, mas também a do convívio, do aprofundamento, do fazer crescer e passar do leite ao alimento sólido.
Isso tudo é um processo lento, difícil, trabalhoso, sacrificial, doloroso. Um processo ao qual se entregam somente aqueles que são dignos, aqueles que entenderam a ótica de Deus – o servir, e não o ser servido, o dar, e não o receber.
Havendo o dar mútuo e recíproco, não há carência. Havendo somente o impulso do receber e do ser servido, a carência é geral e contínua, pois quem quer ser suprido não sabe suprir e com isso são criadas lacunas irremediáveis entre os indivíduos.
É preciso que entendamos que a prática do caminho é exatamente isso: prática. Essa foi a mensagem principal deixada por Jesus de Nazaré. Essa foi a mensagem principal deixada pelos Do Caminho, pelos Nazarenos: a prática. E foi por causa desta visão de prática, claro, dentro da ótica histórica maior do plano de expiação do Eterno, que Y’shua foi odiado, traído e morto pelos religiosos da época.
Precisamos tomar cuidado com a teoria e o teorizar sem fim. O conhecimento é atraente, apaixonante, viciante. Debates enchem a alma, satisfazem, de certo modo, carências profundas que temos em nós. Mas a teoria não salva. A teoria não traz pessoas ao Eterno. A teoria e o teorizar estão longe do plano e do projeto que Ele tem para as nossas vidas.
Precisamos, sim, definir nosso referencial. Precisamos optar: com quem nos identificaremos, a quem seguiremos? A Yeshua, que ousou ir contra sinédrios, escribas e fariseus, engordados de cultura religiosa, de tradições, de leis e cercas em torno delas, e com pouca ou nenhuma prática, ou mesmo uma prática que ia em sentido contrário à essência destas leis? Porque ele foi bem claro ao dizer que seus discípulos seriam reconhecidos nisto: em que se amassem uns aos outros.
Ou seguiremos exatamente a estes escribas e fariseus, ainda que nos enganemos, repudiando sua prática e modo de vida, esquecendo de reconhecer que, ao vivermos um judaísmo apenas profundamente teórico e reflexivo, estamos nos tornando exatamente como eles? Por isso é necessária uma vivência religiosa com referenciais e propósitos. Yeshua foi claríssimo no que ele disse. A ação prática e amorosa é que é resultado da verdadeira salvação. O simplesmente pregar, falar, expulsar demônios e fazer milagres não conta nesta matemática. Quem se limita a isso não entendeu nada.
Há aí um aparente paradoxo. Ele não nos enviou a pregar as boas novas? A Jerusalém, Samaria, até os confins da terra?
Sim, mas a pregação dissociada do amor é vã e infrutífera. Tem efeito efêmero e desvirtuado. Cria discípulos semelhantes ao mestre: deturpados em sua prática religiosa, hipócritas e egoístas.
Qual ótica, então escolher? Qual referencial abraçar? Yeshua foi profundamente claro no que falou e no modo como agiu:
A ótica do serviço impulsionado pelo amor e guiado pela Ruach HaKodesh.
Dar de comer, dar de beber, receber em casa ou em local providenciado para tal, vestir, visitar, são ações que cobram tempo, envolvimento financeiro, comprometimento emocional. São ações que forçam uma interação estreita, laços de alma e sentimento, continuidade.
Profetizar, fazer milagres, expulsar demônios são ações que não precisam envolver a alma. Que não cobram comprometimento com o indivíduo. Que não exigem amor ao próximo. São ações que acariciam o ego e suprem perfeitamente, ou quase, a intrínseca fome do ser humano de auto-afirmação. São atividades auto-recompensadoras por si só. São ações que, apesar de necessárias, constituem apenas uma primeira abordagem, um entrar em contato com o ser, um roçar, um prefácio no livro do relacionamento. Não são o caminho e, por isso,não salvam.
Mas são inebriantes, e existe nelas, como mostra a passagem, o perigo do se perder, do se enganar, do se espantar ao se ver confrontado com a realidade espiritual. São ações falsamente auto-justificadoras.
É preciso que acordemos para isso. Tenho visto isso no judaísmo messiânico mundial, mas principalmente no brasileiro. Muita discussão e pouca ação real. Muito farisaísmo e pouco amor.
É preciso que façamos uma auto-análise sincera à ótica das palavras de Yeshua e à ótica da essência da Torah. É preciso que não nos percamos nos deliciosos meandros, por vezes tão sofistas, do teorizar a religião, esquecendo-nos que o próprio termo significa algo prático: religar o homem ao Eterno. Agora, então, com a Internet, tornou-se extremamente fácil, quase compulsivo e obrigatório esse mundo em que relacionamentos só vão até o meio do caminho, em que um toque em um botão desliga todo vínculo emocional e espiritual, em que rostos se transformam em letras, lágrimas em imagens mortas, em que as discussões se prolongam e se acirram, enquanto lá fora há pessoas ansiando por abraços, por água, por comida, por mãos estendidas. Não quero aqui com isso dizer que a Internet é prejudicial. Longe disso. Não fosse por ela, tanto conhecimento, que potencialmente pode ser transformado em prática benéfica, não estaria sendo passado. Corações se abrem e se curam através dela, e também através dela o nome do Eterno é divulgado e honrado. Nem é ela a única vilã do desamor. A hipocrisia de uma religião dissociada do sentimento que cobra ação já existia muito antes de qualquer meio de comunicação elétrico ou eletrônico. Já existia na época de Y’shua. Muito antes dela.
O que quero dizer aqui é que é preciso haver um equilíbrio entre teoria e prática, entre palavra e ação. É preciso que despertemos para o fato de que o “fazer discípulos” definido por Y’shua é muito mais do que apenas falar dele, seja por que mídia for, ao nosso próximo. O discipular envolve enxergar o indivíduo como um todo e estender a mão para suprir suas carências onde quer que elas estejam. O discipular envolve cheiros, gostos, matéria, carências, espírito e sentimentos. O discipular é o interagir da mistura de tudo aquilo que somos.
Que nós possamos ter em mente que modelos corretos nos levam a caminhos corretos, e que, antes de tudo, nosso modelo é Y’shua HaMashiach.

Um comentário:

  1. Excelente descrição do que é o verdadeiro judaísmo messiânico: palavras e ação, teoria e prática. Sem isso não há uma interação com Y'shua HaMashiach que veio para "encarnar" a Torah e vivê-la na humanidade.
    Discipular é interagir, mais do que falar. É levar o outro a crer e fazer o que você crê e faz.
    Amei esse blog que estou lendo e digerindo.
    Shalom em Y'shua.

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